Activities per year
Abstract
As descrições ou evocações de obras musicais na literatura são várias vezes associadas a um silenciamento definitivo e fatal — as palavras controlam a proliferação do significado musical, condicionam o gesto interpretativo e convertem o fenomenal e o subjetivo no abstrato e universal (Hamilton 2013, Cook 1998). Em particular, as descrições de músicas imaginárias que somam ao silêncio a ausência de um referente real determinado são consideradas utopias, músicas ideais, antíteses
ou versões aperfeiçoadas da música real (Odello 2013), que fetichizam o processo de criação, interpretação e audição musical.
Mas a música imaginária, ou inimaginável, nem sempre se define pela ausência e pela negação ou superação do real. Por vezes, o Ideal resulta de um excesso de presença, da sobreposição de referências e de um jogo paródico com a história. É o que acontece em Concierto Barroco (1974) de Alejo Carpentier, texto que segue a viagem de dois homens da América Latina a Espanha e Itália e que descreve, entre outros momentos musicais, uma sessão de improvisação com Antonio Vivaldi, Domenico Scarlatti
e Georg Friederich Händel e a estreia da ópera Montezuma de Vivaldi. Repleto de anacronismos e de “contaminações”, o romance de Carpentier é uma reflexão sobre o barroco como constante do espírito que tem horror ao vazio e amor à simbiose, e um exemplo do real maravilhoso, do insólito quotidiano que é, segundo o autor, condição da América Latina (Carpentier 1987).
Nesta apresentação, pretendo estender o conceito de música imaginária a esta representação literária, que é simultaneamente silêncio e cacofonia, e reinterpretar o gesto de silenciamento como promessa de som. Para isso, tenciono pensar o texto de Carpentier como apelo à imaginação de um outro ideal de música, que procura o universal no impuro e no instável, e proponho uma análise do filme Baroque (1989) de Paul Leduc, que responde ao convite e fixa esta música impossível, repensando o conflito
e o encontro entre tempos, culturas, realidade e ficção a partir dos modos e estratégias próprios do cinema. Por fim, pretendo articular estes dois objectos de estudo com uma reflexão sobre o valor epistemológico da música imaginária e a relação intersemiótica entre literatura, música e cinema.
ou versões aperfeiçoadas da música real (Odello 2013), que fetichizam o processo de criação, interpretação e audição musical.
Mas a música imaginária, ou inimaginável, nem sempre se define pela ausência e pela negação ou superação do real. Por vezes, o Ideal resulta de um excesso de presença, da sobreposição de referências e de um jogo paródico com a história. É o que acontece em Concierto Barroco (1974) de Alejo Carpentier, texto que segue a viagem de dois homens da América Latina a Espanha e Itália e que descreve, entre outros momentos musicais, uma sessão de improvisação com Antonio Vivaldi, Domenico Scarlatti
e Georg Friederich Händel e a estreia da ópera Montezuma de Vivaldi. Repleto de anacronismos e de “contaminações”, o romance de Carpentier é uma reflexão sobre o barroco como constante do espírito que tem horror ao vazio e amor à simbiose, e um exemplo do real maravilhoso, do insólito quotidiano que é, segundo o autor, condição da América Latina (Carpentier 1987).
Nesta apresentação, pretendo estender o conceito de música imaginária a esta representação literária, que é simultaneamente silêncio e cacofonia, e reinterpretar o gesto de silenciamento como promessa de som. Para isso, tenciono pensar o texto de Carpentier como apelo à imaginação de um outro ideal de música, que procura o universal no impuro e no instável, e proponho uma análise do filme Baroque (1989) de Paul Leduc, que responde ao convite e fixa esta música impossível, repensando o conflito
e o encontro entre tempos, culturas, realidade e ficção a partir dos modos e estratégias próprios do cinema. Por fim, pretendo articular estes dois objectos de estudo com uma reflexão sobre o valor epistemológico da música imaginária e a relação intersemiótica entre literatura, música e cinema.
Original language | Portuguese |
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Pages | 40-41 |
Number of pages | 2 |
Publication status | Published - Sept 2023 |
Event | ENIM 2023: XII Encontro de Investigação em Música - Real Edifício de Mafra, Mafra, Portugal Duration: 28 Sept 2023 → 1 Oct 2023 https://www.spimusica.pt/enim-2023/ |
Conference
Conference | ENIM 2023 |
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Country/Territory | Portugal |
City | Mafra |
Period | 28/09/23 → 1/10/23 |
Internet address |
Activities
- 1 Oral presentation
-
Um outro ideal de música: Alejo Carpentier, Paul Leduc e cacofonias maravilhosas
Filipa Moniz Brazete Cruz (Speaker)
29 Sept 2023Activity: Talk or presentation › Oral presentation