Um olhar inédito sobre Francisco I numa fonte portuguesa dos alvores de Quinhentos

Em 1510, um anónimo fidalgo criado do 4º duque de Bragança, D. Jaime, parte de Portugal em direcção a Itália para só regressar em 1517. Com base nesse périplo redige, mais tarde, um extenso e impressivo relato. Uma das figuras que é alvo da sua atenção é Francisco I de França. Ainda que esparso, o retrato traçado do então jovem soberano deixa antever, sob diversos ângulos, o papel decisivo que o mesmo irá desempenhar na política externa europeia nos alvores de Quinhentos. Tratando-se, na essência, de um estudo de caso, a verdade é que estamos perante um excelente instrumento crítico para ir mais além do que o próprio contexto «circunscrito» do caso em si, abordando questões de índole mais alargada ao nível interpretativo como a disputa pela hegemonia na Europa do século XVI, a passagem da Cristandade à Europa das monarquias nacionais cada vez mais centralizadas ou até a crescente autonomia relativamente a Roma por parte das emergentes potências do Ocidente.

In 1510, an anonymous nobleman servant of the 4th Duke of Braganza, D. Jaime, left Portugal for Italy to return only in 1517. On the basis of this travel, he later wrote an extensive and impressive account. One of the figures that holds his attention is Francis I of France. Although sparse, the outlined portrait of the then young ruler suggests, from various perspectives, the decisive role that he will play in European foreign policy in the early 16th century. It is, in essence, a case study, but the truth is that we are dealing with an excellent critical instrument to go beyond the «circumscribed» context of the case itself, addressing broader questions at the interpretive level, such as the contest for hegemony in 16th century Europe, the passage from Christendom to Europe of increasingly centralized national monarchies or even the growing autonomy in relation to Rome by the emerging powers of the West.