Abstract
Qualquer ontologia dos sons, não obstante as diferentes teorias em competição, tem de considerar um dos seus aspectos incontornáveis: a sua temporalidade. Os sons são entidades temporais, que ocorrem num determinado momento, duram mais ou menos tempo e desaparecem, para sempre. Podemos então dizer, conscientes do compromisso ontológico que isso acarreta e das consequências epistemológicas que daí advêm, que os sons são acontecimentos contingentes, mais ou menos duradouros, mas efémeros e irrepetíveis. Devemos acrescentar que eles não existem isoladamente, resultando do encontro entre corpos, do seu movimento ou da sua vibração e, sobretudo, da perturbação de um meio que os torna audíveis: o som não se ouve no vácuo. Isto significa que devemos sempre falar de uma multiplicidade de sons, da sua interacção com um meio e da rede ressonante que estabelecem entre os corpos que os produzem, que os reflectem ou absorvem e que por eles são afectados. Cada som permite contar muitas histórias.
Quando se fala em paisagens sonoras devemos considerar, então, não apenas a temporalidade, mas a sua historicidade, o que implica não só o seu potencial narrativo e epistémico, mas a sua inscrição num determinado momento do tempo (e do espaço), numa determinada comunidade de ouvintes e numa cultura complexa de representações simbólicas e diferentes sensibilidades. A sua transitoriedade implica ainda que o acesso que temos às paisagens do passado é sempre indirecto e conjectural, necessitando do concurso de muitas fontes e de vários saberes de natureza diversa que permitam reconstruí-las (ainda que parcialmente). O propósito deste capítulo será pois o de reflectir criticamente sobre esta temporalidade e historicidade das paisagens sonoras, tal como sobre os limites, perigos e tentações do uso historiográfico desta noção – “paisagem sonora” -, traduzida e expandida da de “soundscape” de Murray Schafer, ela própria tão profícua quanto fortuitamente vã.
Quando se fala em paisagens sonoras devemos considerar, então, não apenas a temporalidade, mas a sua historicidade, o que implica não só o seu potencial narrativo e epistémico, mas a sua inscrição num determinado momento do tempo (e do espaço), numa determinada comunidade de ouvintes e numa cultura complexa de representações simbólicas e diferentes sensibilidades. A sua transitoriedade implica ainda que o acesso que temos às paisagens do passado é sempre indirecto e conjectural, necessitando do concurso de muitas fontes e de vários saberes de natureza diversa que permitam reconstruí-las (ainda que parcialmente). O propósito deste capítulo será pois o de reflectir criticamente sobre esta temporalidade e historicidade das paisagens sonoras, tal como sobre os limites, perigos e tentações do uso historiográfico desta noção – “paisagem sonora” -, traduzida e expandida da de “soundscape” de Murray Schafer, ela própria tão profícua quanto fortuitamente vã.
Translated title of the contribution | The Temporality and Historicity of Soundscapes: sounds and silences |
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Original language | Portuguese |
Title of host publication | Ouvir e escrever Paisagens Sonoras |
Subtitle of host publication | abordagens teóricas e (multi)disciplinares |
Editors | Elisa Lessa, Pedro Moreira, Rodrigo Teodoro de Paula |
Place of Publication | Braga |
Publisher | CEHUM – Universidade do Minho |
Pages | 22-38 |
Number of pages | 16 |
Publication status | Published - 2020 |