Texturas Ante Mortem na composição orquestral Memorial, de Peter Ruzicka

A 20 de abril de 2001, o célebre compositor e maestro Giuseppe Sinopoli (1946-2001) sofreu um colapso cardíaco enquanto dirigia a orquestra da Deutsche Oper, em Berlim,falecendo nessa mesma noite. Foi este prematuro e inesperado desaparecimento que motivou a composição da peça orquestral Memorial (2001) de Peter Ruzicka (n. 1948), uma homenagem fúnebre dedicada ao colega e amigo de longa data. Essencialmente, esta composição é uma expressão musical representativa dos momentos finais de Sinopoli, baseada em doze ‘pilares harmónicos’, que vão sofrendo ligeiras metamorfoses a cada aparição, cuja presença obsessiva baliza a cronologia de Memorial, criando extensos espaços vazios entre si, como se se tratasse de movimentos respiratórios dispneicos e arrastados.

Focando-se nos aspectos texturais, um dos elementos mais marcantes de Memorial, esta comunicação revelará a estrutura interna dos ‘pilares harmónicos’, expondo as diversas microtexturas que os compõem, e de que formas estas contribuem para a forma e densidade geral de cada um destes doze eventos texturais. Neste sentido, as microtexturas serão pespectivadas sob um prima taxonómico, e quantitativamente avaliadas quanto à sua densidade vertical – baseadas nas respectivas estruturas intervalares, registo e instrumentação - e horizontal, ou seja, quanto ao seu grau de movimento no tempo. Será ainda explorada a relação entre estes densos agregados enquanto elementos delineadores da estrutura formal da obra. Por último, será especulada a relação entre os ‘pilares harmónicos’ e os movimentos respiratórios agonizantes de ‘bradipneia’, da ‘respiração de Biot’ ou de ‘Cheyne-Stokes’.