Abstract
Música, sociedade, identidades: algumas breves considerações A música sempre ocupou um lugar determinante na sociedade desde os tempos mais antigos. Juntando-se às palavras, tem acompanhado práticas de diferente natureza, também graças ao seu poder de propagação de ideias e ideais. Podemos pensar, por exemplo, na tradição grega antiga, e nos aedos, que cantavam as epopeias ajudados pelo fórminx, uma cítara simples e leve graças à qual estabeleciam o andamento e o ritmo da narração e que lhe facilitava a memorização das rimas. Sempre nesta linha, outro exemplo pode ser dado pela constante utilização da música, em forma de ritmos ou cantos, nos rituais profanos e religiosos, em que a união entre ritmo e palavras é finalizada a provocar e/ou acompanhar uma mudança, seja esta de ordem espiritual ou mais concreta. Contudo, para além do seu poder simbólico, nas sociedades contemporâneas a música-e a arte em geral-acaba por desempenhar um papel determinante em termos de construção de identidades, ao mesmo tempo sendo um instrumento de intervenção social e luta política: prova disso é a estrita relação que existe entre géneros musicais, os seus conteúdos, o contexto histórico e socioeconómico que favorece o seu aparecimento, o posicionamento cultural e a procedência social dos seus atores. Neste sentido, numerosos contributos vindos da sociologia têm permitido entender mais aprofundadamente este fenómeno multifacetado. Os pioneiros estudos de Max Weber, W.E.B. Du Bois, Alfred Schultz, Richard Peterson, e Pierre Bourdieu, entre muitos outros, ofereceram ao longo dos anos importantes e diferentes contribuições epistemológicas a partir das quais é possível hoje entender a música como um complexo fenómeno que envolve as pessoas que a produzem e que provoca efeitos nos que a ouvem, sendo ao mesmo tempo uma atividade e um objeto, um sistema institucionalizado e uma mercadoria. Os investigadores William G. Roy e Timothy J. Dowd afirmam que "the sociology of music is relevant for such varied subfields [of sociology] as stratification, social movements, organizational sociology, and symbolic interactionism" (ROY & DOWD, 2010, p.184), e o estudo e compreensão da música não podem prescindir da análise do contexto sociocultural em que esta é produzida e consumida, sobretudo se o objetivo é perceber o que esta prática é capaz de viabilizar a nível coletivo.
Original language | Portuguese |
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Title of host publication | De oriente a ocidente |
Subtitle of host publication | estudos da associação internacional de lusitanistas |
Editors | Cláudia Pazos Alonso, Vincenzo Russo, Roberto Vecchi, Carlos Ascenso André |
Place of Publication | Coimbra |
Publisher | Angelus Novus |
Pages | 215-236 |
Number of pages | 21 |
Volume | 2 |
ISBN (Print) | 978-972-8827-93-9 |
Publication status | Published - Mar 2019 |