Abstract
Contrariamente ao que sucede a nível internacional, a maior parte da bibliografia
referente às tentativas de modernização da Administração Pública incide
quase unicamente no período pós 25 de abril de 1974. As incursões à
época do Estado Novo são raras, constituindo, sobretudo, elementos introdutórios aos estudos feitos sobre o período democrático.
Porém, apesar do primeiro Ministério da Reforma Administrativa datar
apenas de 1978, os debates, estudos e projetos tendentes à reforma da Administração Pública – sobretudo da Administração Central –, no sentido de a
tornar mais eficiente, têm lugar durante todo o Estado Novo. Em diferentes
níveis e com objetivos que foram sendo alterados ao longo do tempo, surgem
reestruturações da orgânica administrativa desde os últimos anos da dé -
cada de 1920, aliadas a uma crescente preocupação com a situação do funcio -
nalismo público que vai perdurar, com várias nuances, até ao final do
regime.
Se numa primeira fase as preocupações com a eficiência da Administração
Pública se prendem com o processo de institucionalização do Estado
Novo e com a necessidade de atingir e manter o primado das finanças sãs, a
II Guerra Mundial vem incluir novas parcelas na equação. O Programa de
Assistência Técnica e Produtividade e os planos nacionais de fomento exigem
diligências que a Administração Central não se encontrava preparada
para desempenhar. Da mesma forma, a nível internacional, o Estado adquire
nesta época novas funções, sendo desafiado a promover o desenvolvimento
económico e social. Portugal entra, igualmente, nesta lógica desenvolvimentista
que exige ao Estado uma Administração célere e eficaz, que possa garantir
a promoção do fomento económico, o apoio aos privados neste mesmo
processo, e o crescimento do Estado Social. Nos anos 60, esta
Administração Pública que se alarga em funções e funcionários vê-se ainda
impelida a alcançar a continuação da contenção da despesa pública, objetivo
que se torna mais premente devido ao esforço financeiro ligado à Defesa.
Na sequência deste processo, pautado por vários estudos e iniciativas pontuais
e sem um carácter sistemático, é criado em 1967 o Secretariado da Re -
forma Administrativa, iniciando um período que se pretendia novo no que
diz respeito à estruturação do projeto de reforma da Administração Pública.
A tese proposta neste artigo pretende defender duas premissas. Por um
lado, demonstra que o processo de reforma da Administração Central não
tem lugar apenas no período democrático, iniciando-se logo após o advento
do Estado Novo. Por outro, revela a forma como, durante o longo processo
de debate, estudo e tentativa de aplicação de reformas na Administração
Central que foi tendo lugar ao longo do Estado Novo, as lógicas da procura
da eficiência administrativa que se encontravam em voga internacionalmente
foram utilizadas para alcançar as prioridades políticas e económicas nacionais
presentes em cada fase do regime.
Assim, o artigo segue uma ordem cronológica tentando revelar a progressiva
consciencialização sobre a necessidade de reforma e/ou modernização da
Administração Pública que teve lugar em três fases distintas: os anos iniciais
do regime; o período que se inicia após a II Guerra Mundial; e a década 60.
Demonstra-se ainda a forma como estas facilmente se integram e articulam
com os objetivos políticos e económicos do regime, atuando como elementos
que possibilitavam que os mesmos fossem alcançados.
referente às tentativas de modernização da Administração Pública incide
quase unicamente no período pós 25 de abril de 1974. As incursões à
época do Estado Novo são raras, constituindo, sobretudo, elementos introdutórios aos estudos feitos sobre o período democrático.
Porém, apesar do primeiro Ministério da Reforma Administrativa datar
apenas de 1978, os debates, estudos e projetos tendentes à reforma da Administração Pública – sobretudo da Administração Central –, no sentido de a
tornar mais eficiente, têm lugar durante todo o Estado Novo. Em diferentes
níveis e com objetivos que foram sendo alterados ao longo do tempo, surgem
reestruturações da orgânica administrativa desde os últimos anos da dé -
cada de 1920, aliadas a uma crescente preocupação com a situação do funcio -
nalismo público que vai perdurar, com várias nuances, até ao final do
regime.
Se numa primeira fase as preocupações com a eficiência da Administração
Pública se prendem com o processo de institucionalização do Estado
Novo e com a necessidade de atingir e manter o primado das finanças sãs, a
II Guerra Mundial vem incluir novas parcelas na equação. O Programa de
Assistência Técnica e Produtividade e os planos nacionais de fomento exigem
diligências que a Administração Central não se encontrava preparada
para desempenhar. Da mesma forma, a nível internacional, o Estado adquire
nesta época novas funções, sendo desafiado a promover o desenvolvimento
económico e social. Portugal entra, igualmente, nesta lógica desenvolvimentista
que exige ao Estado uma Administração célere e eficaz, que possa garantir
a promoção do fomento económico, o apoio aos privados neste mesmo
processo, e o crescimento do Estado Social. Nos anos 60, esta
Administração Pública que se alarga em funções e funcionários vê-se ainda
impelida a alcançar a continuação da contenção da despesa pública, objetivo
que se torna mais premente devido ao esforço financeiro ligado à Defesa.
Na sequência deste processo, pautado por vários estudos e iniciativas pontuais
e sem um carácter sistemático, é criado em 1967 o Secretariado da Re -
forma Administrativa, iniciando um período que se pretendia novo no que
diz respeito à estruturação do projeto de reforma da Administração Pública.
A tese proposta neste artigo pretende defender duas premissas. Por um
lado, demonstra que o processo de reforma da Administração Central não
tem lugar apenas no período democrático, iniciando-se logo após o advento
do Estado Novo. Por outro, revela a forma como, durante o longo processo
de debate, estudo e tentativa de aplicação de reformas na Administração
Central que foi tendo lugar ao longo do Estado Novo, as lógicas da procura
da eficiência administrativa que se encontravam em voga internacionalmente
foram utilizadas para alcançar as prioridades políticas e económicas nacionais
presentes em cada fase do regime.
Assim, o artigo segue uma ordem cronológica tentando revelar a progressiva
consciencialização sobre a necessidade de reforma e/ou modernização da
Administração Pública que teve lugar em três fases distintas: os anos iniciais
do regime; o período que se inicia após a II Guerra Mundial; e a década 60.
Demonstra-se ainda a forma como estas facilmente se integram e articulam
com os objetivos políticos e económicos do regime, atuando como elementos
que possibilitavam que os mesmos fossem alcançados.
Original language | Portuguese |
---|---|
Pages (from-to) | 177-198 |
Number of pages | 22 |
Journal | Portuguese Studies Review |
Volume | 26 |
Issue number | 2 |
Publication status | Published - 2018 |
Keywords
- portugal
- Estado Novo
- Administração Pública