Abstract
A declamação acompanhada de música é um fenômeno bastante
conhecido no teatro do século XIX. Contudo, menos sabido é o fato de que peças musicais que fazem uso de voz falada também estavam sendo interpretadas nos salões daqueles dias. Essas composições de câmara, geralmente para piano voz, podem ser vistas atualmente na literatura especializada em canção, estando indicadas como “melodramas”. Por exemplo, no Guide de la mélodie et du Lied, organizado por Brigitte François-Sappey e Gilles Cantagrel, podemos ver vários “melodramas” citados nas listas de canções compostas por alguns compositores (FRANÇOIS-SAPPEY & CANTAGREL, 1994). Por sua vez, há alguns anos,
Alberto Pacheco deparou-se com uma série de composições brasileiras e portuguesas, geralmente intituladas ou subintituladas como “recitativos”, que aparentemente tinham sido escritas para piano solo. Na verdade, a investigação foi mostrando que se tratava de canções melodrama nas quais, via de regra, o piano acompanhava a declamação de um poema ao som de uma valsa. Foi possível comprovar também que o gênero foi criado no Rio de Janeiro em meados do século XIX pelo ator português Luiz
Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado Coelho (1831-1900). Esse tipo específico de canção declamada, que passou a ser indicado por Pacheco (2018) como “recitativo de salão”, tornou-se muito popular no Brasil e acabou chegando a Portugal com o mesmo sucesso, o que confirmou seu caráter fundamentalmente luso-brasileiro. Ao que tudo indica, o gênero caiu em completo desuso nas primeiras décadas do século passado.
Paralelamente à investigação documental e histórica, Pacheco e Andrea Teixeira desenvolveram uma longa experimentação interpretativa para que se alcançasse uma execução musical convincente e efetiva do repertório (PACHECO, TEIXEIRA, 2018). Os resultados foram sendo apresentados em concertos tanto no Brasil quanto em Portugal, sempre com uma ótima acolhida do público. Em 2019, o grupo Academia dos Renascidos, fundado 88 89
relativos a Ruy Coelho, demonstrar como estes influenciaram a criação de um estilo de escrita para piano específico. Para tal, esta comunicação-performance incide sobre duas das obras de Ruy Coelho para piano solo, Três Prelúdios e Três Prelúdios Peninsulares, recorrendo a esta forma musical para expor o ecletismo de estilos na escrita de Ruy Coelho em
miniaturas para piano. Pretende-se também partir do sentido lato do conceito prelúdio e utilizar esta comunicação-performance para promover a disseminação da obra para piano de Ruy Coelho, contextualizando algumas das obras mais relevantes para piano do compositor dentro dos estilos existentes nos prelúdios apresentados.
Este trabalho partirá de uma pesquisa bibliográfica e de arquivo, de forma a aferir quais os contextos de composição de Três Prelúdios e Três Prelúdios Peninsulares, intérpretes anteriores e possíveis gravações destas obras e autógrafos e manuscritos existentes. No contexto específico destas obras musicais, a discussão envolverá a apresentação integral de Três Prelúdios
e Três Prelúdios Peninsulares e a sua articulação com os conteúdos de natureza musicológica identificados na pesquisa bibliográfica e de arquivo. Demonstrar-se-á ainda os vários elementos presentes na escrita de Ruy Coelho para piano, desde as texturas orquestrais aos temas reminiscentes da música tradicional portuguesa e à utilização de uma forma rapsódica nas suas peças, transversais às suas composições para piano ao longo da vida.
Com esta conferência-performance espera-se contribuir para a divulgação da obra para piano deste compositor português do século XX. por esses dois intérpretes com o objetivo de dar nova voz ao repertório luso-brasileiro que se encontrava silenciado nos arquivos, lançou pelo selo do MPMP, em Portugal, o primeiro CD totalmente dedicado ao gênero. Esta comunicação-performance pretende apresentar uma seleção das canções ali registradas, refletindo sobre estratégias tomadas pelos músicos para
enfrentar alguns problemas e desafios encontrados durante o processo de interpretação de um repertório cuja prática musical estava interrompida.
Ficará bastante claro que seguimos o mesmo método empregado pelos intérpretes envolvidos no movimento revivalista que ficou conhecido comom“early music” (HASKELL).
conhecido no teatro do século XIX. Contudo, menos sabido é o fato de que peças musicais que fazem uso de voz falada também estavam sendo interpretadas nos salões daqueles dias. Essas composições de câmara, geralmente para piano voz, podem ser vistas atualmente na literatura especializada em canção, estando indicadas como “melodramas”. Por exemplo, no Guide de la mélodie et du Lied, organizado por Brigitte François-Sappey e Gilles Cantagrel, podemos ver vários “melodramas” citados nas listas de canções compostas por alguns compositores (FRANÇOIS-SAPPEY & CANTAGREL, 1994). Por sua vez, há alguns anos,
Alberto Pacheco deparou-se com uma série de composições brasileiras e portuguesas, geralmente intituladas ou subintituladas como “recitativos”, que aparentemente tinham sido escritas para piano solo. Na verdade, a investigação foi mostrando que se tratava de canções melodrama nas quais, via de regra, o piano acompanhava a declamação de um poema ao som de uma valsa. Foi possível comprovar também que o gênero foi criado no Rio de Janeiro em meados do século XIX pelo ator português Luiz
Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado Coelho (1831-1900). Esse tipo específico de canção declamada, que passou a ser indicado por Pacheco (2018) como “recitativo de salão”, tornou-se muito popular no Brasil e acabou chegando a Portugal com o mesmo sucesso, o que confirmou seu caráter fundamentalmente luso-brasileiro. Ao que tudo indica, o gênero caiu em completo desuso nas primeiras décadas do século passado.
Paralelamente à investigação documental e histórica, Pacheco e Andrea Teixeira desenvolveram uma longa experimentação interpretativa para que se alcançasse uma execução musical convincente e efetiva do repertório (PACHECO, TEIXEIRA, 2018). Os resultados foram sendo apresentados em concertos tanto no Brasil quanto em Portugal, sempre com uma ótima acolhida do público. Em 2019, o grupo Academia dos Renascidos, fundado 88 89
relativos a Ruy Coelho, demonstrar como estes influenciaram a criação de um estilo de escrita para piano específico. Para tal, esta comunicação-performance incide sobre duas das obras de Ruy Coelho para piano solo, Três Prelúdios e Três Prelúdios Peninsulares, recorrendo a esta forma musical para expor o ecletismo de estilos na escrita de Ruy Coelho em
miniaturas para piano. Pretende-se também partir do sentido lato do conceito prelúdio e utilizar esta comunicação-performance para promover a disseminação da obra para piano de Ruy Coelho, contextualizando algumas das obras mais relevantes para piano do compositor dentro dos estilos existentes nos prelúdios apresentados.
Este trabalho partirá de uma pesquisa bibliográfica e de arquivo, de forma a aferir quais os contextos de composição de Três Prelúdios e Três Prelúdios Peninsulares, intérpretes anteriores e possíveis gravações destas obras e autógrafos e manuscritos existentes. No contexto específico destas obras musicais, a discussão envolverá a apresentação integral de Três Prelúdios
e Três Prelúdios Peninsulares e a sua articulação com os conteúdos de natureza musicológica identificados na pesquisa bibliográfica e de arquivo. Demonstrar-se-á ainda os vários elementos presentes na escrita de Ruy Coelho para piano, desde as texturas orquestrais aos temas reminiscentes da música tradicional portuguesa e à utilização de uma forma rapsódica nas suas peças, transversais às suas composições para piano ao longo da vida.
Com esta conferência-performance espera-se contribuir para a divulgação da obra para piano deste compositor português do século XX. por esses dois intérpretes com o objetivo de dar nova voz ao repertório luso-brasileiro que se encontrava silenciado nos arquivos, lançou pelo selo do MPMP, em Portugal, o primeiro CD totalmente dedicado ao gênero. Esta comunicação-performance pretende apresentar uma seleção das canções ali registradas, refletindo sobre estratégias tomadas pelos músicos para
enfrentar alguns problemas e desafios encontrados durante o processo de interpretação de um repertório cuja prática musical estava interrompida.
Ficará bastante claro que seguimos o mesmo método empregado pelos intérpretes envolvidos no movimento revivalista que ficou conhecido comom“early music” (HASKELL).
Original language | Portuguese |
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Pages | 87-88 |
Number of pages | 2 |
Publication status | Published - 2023 |
Event | Encontro Nacional de Investigação em Música - Convento de Mafra, Mafra, Portugal Duration: 28 Sept 2023 → 1 Oct 2023 https://www.spimusica.pt/enim-2023/ |
Conference
Conference | Encontro Nacional de Investigação em Música |
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Abbreviated title | ENIM |
Country/Territory | Portugal |
City | Mafra |
Period | 28/09/23 → 1/10/23 |
Internet address |