Práticas musicais no feminino em finais do século XVIII em torno de Marie-Angélique e Jeanne-Renée de Bombelles

Em 1786, Marc Antoine Marie, Marquês de Bombelles (1744-1822), esteve em Portugal em funções como embaixador da corte francesa. Além de um numeroso séquito de criados, veio acompanhado da sua família: os três filhos, de dois meses, três e seis anos; a sua mulher, Marie-Angélique Charlotte, nascida de Mackau (1762-1800), dama de companhia e correspondente de Isabel de França; e a sua irmã, Jeanne-Renée de Bombelles (1753-1828), Marquesa de Travanet, compositora francesa cujo legado musical chegou parcialmente até nós. O diário do Marquês relativo à sua estadia em Portugal foi publicado pela primeira vez em 1979, tendo sido utilizado como fonte importante sobre as práticas culturais do seu tempo. Nele são relatados, de forma intimista e não pensando numa posterior publicação, os eventos sociais vividos na esfera da corte e da alta aristocracia, como saraus, bailes, óperas e demais representações musicais, com inúmeras menções à sua esposa e à sua irmã. Neste artigo, partindo do diário do Marquês de Bombelles, e fazendo o cruzamento com cartas escritas por estas aristocratas francesas, bem como outras fontes arquivísticas internacionais, procurar-se-á traçar o percurso destas duas mulheres, no que diz respeito não só aos locais por elas frequentadas, mas também às práticas musicais, à rede pessoal, ao tipo de sociabilidade e aos códigos de distinção a elas associadas, durante a sua estadia em Portugal.