Abstract
No contexto da lírica medieval galego-portuguesa, as cantigas de amigo definem-se e distinguem-se por brotarem de um curioso fenómeno de desdobramento subjetivo através do qual um trovador do sexo masculino dá voz a um sujeito lírico feminino, verificando-se, assim, uma rutura entre o género sexual do autor e o da voz que enuncia o cantar.
Uma vez que abordam a experiência amorosa do ponto de vista feminino, as cantigas de amigo têm sido comummente inseridas, nos estudos da especialidade, no conjunto genérico e heterogéneo da “canção de mulher” medieval, que abrange, por exemplo, as kharjas moçárabes, as frauenlieder alemãs, as cansos das trobairitz e também as pastorelas, as albas e as chansons de toile, compostas tanto por troubadours provençais como pelos trouvères do Norte de França.
Todavia, embora do ponto de vista da ficção textual se afigure pertinente a inclusão da cantiga de amigo no corpus da chanson de femme, será realmente viável comparar composições de voz feminina escritas por homens com textos efetivamente redigidos por mulheres (como é o caso das cansos das trobairitz)? Reformulando a questão, até que ponto é que nas cantigas de amigo a autoria masculina se repercute na formulação dos textos e influencia a sua análise?
Partindo de uma reflexão fundamentada em exemplos textuais pertinentes e na oposição cunhada por Pierre Bec entre “féminité textuelle” e “féminité génétique”, tentaremos, então, perceber quais as consequências da não coincidência de género biológico entre autor e sujeito poético nas cantigas de amigo.
Uma vez que abordam a experiência amorosa do ponto de vista feminino, as cantigas de amigo têm sido comummente inseridas, nos estudos da especialidade, no conjunto genérico e heterogéneo da “canção de mulher” medieval, que abrange, por exemplo, as kharjas moçárabes, as frauenlieder alemãs, as cansos das trobairitz e também as pastorelas, as albas e as chansons de toile, compostas tanto por troubadours provençais como pelos trouvères do Norte de França.
Todavia, embora do ponto de vista da ficção textual se afigure pertinente a inclusão da cantiga de amigo no corpus da chanson de femme, será realmente viável comparar composições de voz feminina escritas por homens com textos efetivamente redigidos por mulheres (como é o caso das cansos das trobairitz)? Reformulando a questão, até que ponto é que nas cantigas de amigo a autoria masculina se repercute na formulação dos textos e influencia a sua análise?
Partindo de uma reflexão fundamentada em exemplos textuais pertinentes e na oposição cunhada por Pierre Bec entre “féminité textuelle” e “féminité génétique”, tentaremos, então, perceber quais as consequências da não coincidência de género biológico entre autor e sujeito poético nas cantigas de amigo.
Original language | Portuguese |
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Title of host publication | Voces de mujeres en la Edad Media |
Subtitle of host publication | Entre realidad y ficción |
Editors | Esther Corral Díaz |
Place of Publication | Berlim |
Publisher | De Gruyter |
Pages | 362-372 |
Number of pages | 10 |
ISBN (Electronic) | 978-3-11-059675-5 |
DOIs | |
Publication status | Published - 2018 |
Event | A presenza feminina na escritura: Voces de mulleres na Idade Media - Centro Ramón Piñeiro para a Investigación en Humanidades, Santiago de Compostela, Spain Duration: 1 Feb 2017 → 3 Feb 2017 https://www.vocesdemujeresmedievales.com/gl/circulares/ |
Conference
Conference | A presenza feminina na escritura |
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Country/Territory | Spain |
City | Santiago de Compostela |
Period | 1/02/17 → 3/02/17 |
Internet address |
Keywords
- Lírica galego-portuguesa
- Cantigas de amigo
- Voz feminina
- Literatura Medieval
- Canção de mulher medieval
- Féminité textuelle
- Féminité génétique