Orlando Pantera e a performance da história

No final do século xx o músico Orlando Pantera imprimiu novas dinâmicas criativas às práticas expressivas partilhadas pelos cabo-verdianos. O passado colonial da ilha de Santiago, os seus atores sociais, práticas culturais e eventos históricos ocupam um lugar significativo nos seus processos de criatividade sonora e poética. O texto procura traçar a conjuntura que favoreceu a emergência da estética de Orlando Pantera. Defende que as suas composições negoceiam a inclusão de histórias, práticas culturais e experiências de se ser cabo-verdiana/o, historicamente silenciadas ou subalternizadas, no quadro de uma narrativa nacional crioula hegemónica. Ao evidenciar a agência histórica da população camponesa da ilha de Santiago e, muito em particular, das mulheres, a sua estética interroga as fundações de classe social, raça e género dessa narrativa da nação.

At the end of the 20th century, musician Orlando Pantera imprinted new creative dynamics on the expressive practices shared by Cape Verdeans. The colonial past of the island of Santiago, its social actors, cultural practices, and historical events occupy a significant place in the musician’s processes of sound and poetic creativity. The text seeks to trace the conjuncture that favored the emergence of Pantera’s aesthetics. It argues that his compositions negotiate the inclusion of historically silenced or subaltern histories, cultural practices, and experiences of being Cape Verdean within the framework of a hegemonic Creole national narrative. By highlighting the historical agency of the peasant population of the island of Santiago and, in particular, of women, his aesthetics questions the foundations of social class, race and gender of this narrative of the nation.