Oposição ou complementaridade? A relação mágico-medicinal entre o asipu e o asû (século VII a.C.)

As funções e raio de ação do āšipū e do asû, especialistas de cura da antiga civilização mesopotâmica, foram alvo de múltiplos trabalhos académicos, nas últimas décadas. Tendo sido identificados como integrantes dos mesmos círculos intelectuais, em termos diacrónicos, parece existir uma propensão para perspetivar a sua relação como tendencialmente antagónica. Acreditando que esta oposição decorre da visão ocidental moderna que perpetua uma oposição quase absoluta entre magia e medicina, neste artigo propomos seguir uma linha analítica que abandona este pressuposto. Assim, perscrutaremos documentação Neo-Assíria que atesta a intervenção destes especialistas, a vários níveis, com vista a evidenciar uma possível complementaridade entre ambos, que pressupõe, por sua vez, uma maior fluidez do sistema de cura mesopotâmico.