Abstract
Desde os primórdios da ocupação da cidade de Lisboa, que este território é considerado uma importante paragem comercial, permanentemente em contacto com variadas rotas e vias de comunicação. Em época moderna este aspecto adensa-se, transformando a cidade numa ‘plataforma giratória de saberes’. Foi aqui que chegaram indivíduos provenientes de geografias remotas, onde aportaram embarcações, em paragem temporária ou em fim de circuito, com diversificadas mercadorias que fomentaram o interesse nestas novidades. Este cenário de buliço urbano e intelectual despertou a ânsia nos novos hábitos ‘exóticos’ de além fronteira que rapidamente se disseminaram pela cidade. Provenientes da Europa, a Lisboa chegaram objectos cerâmicos variados. Dos Países Baixos e do Reno, as reconhecidas prodruções de grés ou os tão cobiçados cachimbos de caulino, paralelamente concebidos e exportados de Inglaterra. De Itália confluíam a Lisboa as coloridas produções de Majólica, onde as cores e o universo renascentista vigoravam em todo o seu esplendor. De Espanha, da Andaluzia a Valência, louça com temáticas decorativas e formas tendencialmente de ambiente muçulmano. Da Ásia, a valiosa porcelana chinesa ou os grandes contentores cerâmicos destinados ao armazenamento de especiarias raras. De África, cerâmica comum e utilitária…
Contudo, simultaneamente à circulação destas importações, merece menção a produção lisboeta. Com inigualável expressão nos quotidianos, estes artefactos cerâmicos retêm em si forte significado, contendo elementos próprios que permitem a sua distinção, com ou sem revestimento vidrado, com ou sem inspiração italiana ou chinesa, mais ou menos coloridas, de quotidiano ou aparato.
É este universo objectual que melhor espelha os novos hábitos de época moderna impulsionados pela crescente comunicação com outras geografias: a utilização da cerâmica de uso individual, preocupação crescente na Europa quinhentista; o consumo de tabaco proveniente da América e tão apreciado nas vivências do Velho Mundo e que se traduz na vulgarização do cachimbo; o cacau de igual proveniência ou o café de origem africana e que rapidamente se dissemina globalmente, assistindo-se à criação de formas cerâmicas especificas. Acrescente-se o comércio açucareiro que trouxe novos, mas fortes, hábitos introduzidos nos quotidianos alimentares atestados pela existência de pequenos recipientes associados a este consumo.
Refira-se que os europeus não importaram somente os objectos: com eles veio o knowhow, chegaram as gentes detentoras do conhecimento e da materialização deste sendo exemplo disso a presença de oleiros estrangeiros a laborar em olarias lisboetas. Deste modo, o objecto exumado nas inúmeras intervenções arqueológicas em Lisboa não deve, nem pode, ser analisado enquanto elemento isolado, mas sim enquanto fonte para o estudo da História da Idade Moderna a par das fontes documentais histórias, não obstante as suas metodologias e problemáticas de abordagem próprias e cientificas. São
estas peças, desafortunadamente apartadas por investigadores, que persistem no tempo e que permanecem ‘vivas’ e tangíveis aos arqueólogos contemporâneos, frequentemente intocáveis desde o seu proprietário que pela última vez o manuseou.
A presente proposta pretende divulgar os objectos que a Lisboa afluíam mas, também, a
análise das produções lisboetas, sugerindo-se a criação de fácies cerâmicos para a cidade
e, para este fim, serão expostas peças provenientes de intervenções arqueológicas,
nomeadamente da actual Praça da Figueira (extinto Hospital Real de Todos-os-Santos,
1492-1775) e as respectivas cerâmicas quinhentistas; da Rua dos Correeiros, contexto
formado no século XVII-XVIII e, por fim, uma intervenção no actual Mercado da Ribeira,
conjunto resultante de aterros e com panóplia variada de artefactos do século XVIII pleno.
Contudo, simultaneamente à circulação destas importações, merece menção a produção lisboeta. Com inigualável expressão nos quotidianos, estes artefactos cerâmicos retêm em si forte significado, contendo elementos próprios que permitem a sua distinção, com ou sem revestimento vidrado, com ou sem inspiração italiana ou chinesa, mais ou menos coloridas, de quotidiano ou aparato.
É este universo objectual que melhor espelha os novos hábitos de época moderna impulsionados pela crescente comunicação com outras geografias: a utilização da cerâmica de uso individual, preocupação crescente na Europa quinhentista; o consumo de tabaco proveniente da América e tão apreciado nas vivências do Velho Mundo e que se traduz na vulgarização do cachimbo; o cacau de igual proveniência ou o café de origem africana e que rapidamente se dissemina globalmente, assistindo-se à criação de formas cerâmicas especificas. Acrescente-se o comércio açucareiro que trouxe novos, mas fortes, hábitos introduzidos nos quotidianos alimentares atestados pela existência de pequenos recipientes associados a este consumo.
Refira-se que os europeus não importaram somente os objectos: com eles veio o knowhow, chegaram as gentes detentoras do conhecimento e da materialização deste sendo exemplo disso a presença de oleiros estrangeiros a laborar em olarias lisboetas. Deste modo, o objecto exumado nas inúmeras intervenções arqueológicas em Lisboa não deve, nem pode, ser analisado enquanto elemento isolado, mas sim enquanto fonte para o estudo da História da Idade Moderna a par das fontes documentais histórias, não obstante as suas metodologias e problemáticas de abordagem próprias e cientificas. São
estas peças, desafortunadamente apartadas por investigadores, que persistem no tempo e que permanecem ‘vivas’ e tangíveis aos arqueólogos contemporâneos, frequentemente intocáveis desde o seu proprietário que pela última vez o manuseou.
A presente proposta pretende divulgar os objectos que a Lisboa afluíam mas, também, a
análise das produções lisboetas, sugerindo-se a criação de fácies cerâmicos para a cidade
e, para este fim, serão expostas peças provenientes de intervenções arqueológicas,
nomeadamente da actual Praça da Figueira (extinto Hospital Real de Todos-os-Santos,
1492-1775) e as respectivas cerâmicas quinhentistas; da Rua dos Correeiros, contexto
formado no século XVII-XVIII e, por fim, uma intervenção no actual Mercado da Ribeira,
conjunto resultante de aterros e com panóplia variada de artefactos do século XVIII pleno.
Original language | Portuguese |
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Pages | 10-13 |
Number of pages | 3 |
Publication status | Published - 2019 |
Event | Encontro Internacional de Jovens Investigadores de História Moderna - NOVA FCSH, Lisboa, Portugal Duration: 5 May 2019 → 7 May 2019 Conference number: VI https://viejihm2019.wordpress.com/ |
Conference
Conference | Encontro Internacional de Jovens Investigadores de História Moderna |
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Abbreviated title | EJIHM |
Country/Territory | Portugal |
City | Lisboa |
Period | 5/05/19 → 7/05/19 |
Internet address |