Abstract
Em 1882, passados cem anos da morte de Pombal, organizaram-se festejos em sua homenagem em Portugal e no Brasil, mobilizando-se memórias sobre suas reformas como justificativa histórica para diferentes projetos e embates políticos. O centenário pombalino, de que resultou um grande número de impressos, afirmou-se como atualização das polêmicas que a figura e o histórico do Marquês levantavam no ambiente coetâneo.
Entende-se, pois, a efeméride, como ocasião para refletir a respeito da forma como, à altura, mobilizaram-se vozes desse passado para ecoar visões específicas sobre a política e sobre a própria história. Ao investigar leituras e releituras sobre o histórico e o legado de Pombal cem anos após sua morte, espera-se melhor compreender as principais questões postas em disputa em torno de sua figura. Busca-se, ademais, entender tanto os modos como se estruturaram e validaram discursos historiográficos, quanto as formas como se articularam, a partir desses discursos, diferentes vozes do passado selecionado, do presente corrente e mesmo do futuro idealizado.
Como recorte, propõe-se considerar especificamente os embates em que tomou parte, em jornais e livros, Camilo Castelo Branco. Grande crítico do Marquês e de seus apologistas, o romancista publicou seu “Perfil” logo após os festejos – acerca dos quais já havia se manifestado na imprensa. Sem ignorar que se trata da mais célebre das obras a que o centenário deu ensejo, propõe-se retomar suas leituras, refletindo-se sobretudo acerca da forma como o autor nela se posiciona tanto sobre a natureza e a limitação de seu trabalho quanto sobre as formas como, à altura, lidava-se alternativamente com o passado.
O próprio Castelo Branco traz tais reflexões sobre textos e comemorações públicas à tona, ao afirmar, por exemplo, que “não se desfazem com livros as persuasões que se fizeram com locais de jornais baratos”. Ou ainda que “a porção do povo que não aprende nada em livros achou nos clubes a educação do discurso amoldado à sua capacidade, à sua dócil ignorância, à sua congenital necessidade de revolucionar-se com palmas e gritos”.
Questionando, ademais, a mobilização do passado pombalino por parte dos promotores dos festejos (em que se destacaram os republicanos, que quiseram dar a ver em Pombal sobretudo um precursor das liberdades políticas que eles almejavam, a despeito dos impulsos absolutistas do Marquês), o autor possibilita a reflexão sobre diferentes leituras e usos do passado ao longo do tempo, ao afirmar jocosamente, imaginado seu futuro centenário: “se os ultraliberais de 1882 estão com o marquês de Pombal, quem nos afirma que as confederações republicanas e ateístas de 1982 não hão de estar com os jesuítas? As situações parecem-me equivalentes nas paralelas do absurdo”.
Entende-se, pois, a efeméride, como ocasião para refletir a respeito da forma como, à altura, mobilizaram-se vozes desse passado para ecoar visões específicas sobre a política e sobre a própria história. Ao investigar leituras e releituras sobre o histórico e o legado de Pombal cem anos após sua morte, espera-se melhor compreender as principais questões postas em disputa em torno de sua figura. Busca-se, ademais, entender tanto os modos como se estruturaram e validaram discursos historiográficos, quanto as formas como se articularam, a partir desses discursos, diferentes vozes do passado selecionado, do presente corrente e mesmo do futuro idealizado.
Como recorte, propõe-se considerar especificamente os embates em que tomou parte, em jornais e livros, Camilo Castelo Branco. Grande crítico do Marquês e de seus apologistas, o romancista publicou seu “Perfil” logo após os festejos – acerca dos quais já havia se manifestado na imprensa. Sem ignorar que se trata da mais célebre das obras a que o centenário deu ensejo, propõe-se retomar suas leituras, refletindo-se sobretudo acerca da forma como o autor nela se posiciona tanto sobre a natureza e a limitação de seu trabalho quanto sobre as formas como, à altura, lidava-se alternativamente com o passado.
O próprio Castelo Branco traz tais reflexões sobre textos e comemorações públicas à tona, ao afirmar, por exemplo, que “não se desfazem com livros as persuasões que se fizeram com locais de jornais baratos”. Ou ainda que “a porção do povo que não aprende nada em livros achou nos clubes a educação do discurso amoldado à sua capacidade, à sua dócil ignorância, à sua congenital necessidade de revolucionar-se com palmas e gritos”.
Questionando, ademais, a mobilização do passado pombalino por parte dos promotores dos festejos (em que se destacaram os republicanos, que quiseram dar a ver em Pombal sobretudo um precursor das liberdades políticas que eles almejavam, a despeito dos impulsos absolutistas do Marquês), o autor possibilita a reflexão sobre diferentes leituras e usos do passado ao longo do tempo, ao afirmar jocosamente, imaginado seu futuro centenário: “se os ultraliberais de 1882 estão com o marquês de Pombal, quem nos afirma que as confederações republicanas e ateístas de 1982 não hão de estar com os jesuítas? As situações parecem-me equivalentes nas paralelas do absurdo”.
Original language | Portuguese |
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Pages | online |
Publication status | Published - 2019 |
Event | 30º Simpósio Nacional de História: História e o futuro da educação - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brazil Duration: 15 Jul 2019 → 19 Jul 2019 |
Seminar
Seminar | 30º Simpósio Nacional de História |
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Country/Territory | Brazil |
City | Recife |
Period | 15/07/19 → 19/07/19 |
Keywords
- History
- Commemorations
- Centenary
- Marquis of Pombal
- Camilo Castelo Branco
- Press
- Republicanism
- Antijesuitism
- Antipombalism