Abstract
O chamado Palácio dos Duques de Aveiro em Azeitão é, de entre as diversas habitações palacianas que a casa ducal possuía entre Setúbal e Lisboa, o único cuja aparência e volumetria remanescentes, apesar da degradação visível, ainda remetem para a grandeza e monumentalidade de outrora. Ainda se ergue, imponente, no rossio de Vila Nogueira, com as suas três grandes alas que conformam um largo U aberto a norte e delimitam o terreiro de acesso ao portal nobre. A disposição da tripla fachada interna segundo uma geometria e uma simetria rigorosas esconde a diversidade da extensão e organização dos três corpos principais.
Provavelmente resultante de sucessivas ampliações das casas de campo que o primeiro duque de Aveiro, D. João, possuía junto ao convento dominicano que já o seu pai, D. Jorge, duque de Coimbra, costumava usar como local de retiro, só terá atingido as dimensões e a expressão que hoje tem durante a primeira metade do século XVII. Na segunda década de Seiscentos, pelo menos, já teria desenvolvimento suficiente para ser considerada por Frei Nicolau de Oliveira uma das mais notáveis quintas dos arredores de Lisboa.
Foi morada privilegiada e local de nascimento de vários representantes da Casa de Aveiro (que incluía os títulos de marquês e duque de Torres Novas) até à sua extinção em 1759. Foi palco de inúmeros acontecimentos e celebrações e recebeu diversos monarcas, como Filipe II (rei 1598-1621) e, por mais que uma vez, D. João V (rei 1706-1750). Depois de 1759 acolheu, entre outras funções, a de cárcere provisório de padres da Companhia de Jesus e, mais tarde, foi onde se instalou a primeira fábrica de chitas que existiu em Portugal. É ainda hoje propriedade particular.
O palácio, muito referido pela historiografia da arte portuguesa, foi objecto da atenção de Manuel Maria Portela em Notícia dos monumentos nacionais e edifícios e lugares notáveis do concelho de Setúbal (1882) e de Joaquim Rasteiro na entrada do Guia de Portugal (1924). Carlos Azevedo, por sua vez, numa abordagem mais centrada no tipo de edifício, refere o palácio na obra Solares Portugueses (1969), palácio que volta a ser mencionado por Helder Carita em Oriente e Ocidente nos Interiores em Portugal (1983) e em A Casa Senhorial em Portugal: modelos, tipologias, programas interiores e equipamento (2015) e, ainda no século passado, por Margarida Calado em Azeitão (1993). Já no presente século foi também objecto de exercício arquitectónico de duas teses de mestrado no âmbito da reabilitação patrimonial, da autoria de Sofia Alexandra Pereira Esteves (2013) e de Ana Margarida Ribeiro Fernandes (2013), entre outros autores de nomeada que a ele se reportaram, e foi também alvo das asserções de Amílcar de Gil e Pires em torno da vilegiatura e das quintas de recreio de cariz renascentista (2013 e 2016).
Apesar da extensa bibliografia que lhe faz referência, o conjunto edificado e a antiga quinta dos Duques de Aveiro em Azeitão continuam a carecer não só de um estudo monográfico de fundo como de estudos parcelares: a) que esclareçam a sua intrincada e praticamente desconhecida cronologia; b) que se dediquem à história da envolvente paisagística do núcleo construído (jardins, pomares, horta, mata, etc.); c) que investiguem não só as especificidades da sua organização espacial, como ponham em perspectiva a decoração que sabemos ter sido escolhida para os seus espaços, a saber, os azulejos, os estuques, a pintura decorativa e a obra de marcenaria. O estudo que se apresenta pretende, justamente, desenvolver novo conhecimento no âmbito da alínea c).
Provavelmente resultante de sucessivas ampliações das casas de campo que o primeiro duque de Aveiro, D. João, possuía junto ao convento dominicano que já o seu pai, D. Jorge, duque de Coimbra, costumava usar como local de retiro, só terá atingido as dimensões e a expressão que hoje tem durante a primeira metade do século XVII. Na segunda década de Seiscentos, pelo menos, já teria desenvolvimento suficiente para ser considerada por Frei Nicolau de Oliveira uma das mais notáveis quintas dos arredores de Lisboa.
Foi morada privilegiada e local de nascimento de vários representantes da Casa de Aveiro (que incluía os títulos de marquês e duque de Torres Novas) até à sua extinção em 1759. Foi palco de inúmeros acontecimentos e celebrações e recebeu diversos monarcas, como Filipe II (rei 1598-1621) e, por mais que uma vez, D. João V (rei 1706-1750). Depois de 1759 acolheu, entre outras funções, a de cárcere provisório de padres da Companhia de Jesus e, mais tarde, foi onde se instalou a primeira fábrica de chitas que existiu em Portugal. É ainda hoje propriedade particular.
O palácio, muito referido pela historiografia da arte portuguesa, foi objecto da atenção de Manuel Maria Portela em Notícia dos monumentos nacionais e edifícios e lugares notáveis do concelho de Setúbal (1882) e de Joaquim Rasteiro na entrada do Guia de Portugal (1924). Carlos Azevedo, por sua vez, numa abordagem mais centrada no tipo de edifício, refere o palácio na obra Solares Portugueses (1969), palácio que volta a ser mencionado por Helder Carita em Oriente e Ocidente nos Interiores em Portugal (1983) e em A Casa Senhorial em Portugal: modelos, tipologias, programas interiores e equipamento (2015) e, ainda no século passado, por Margarida Calado em Azeitão (1993). Já no presente século foi também objecto de exercício arquitectónico de duas teses de mestrado no âmbito da reabilitação patrimonial, da autoria de Sofia Alexandra Pereira Esteves (2013) e de Ana Margarida Ribeiro Fernandes (2013), entre outros autores de nomeada que a ele se reportaram, e foi também alvo das asserções de Amílcar de Gil e Pires em torno da vilegiatura e das quintas de recreio de cariz renascentista (2013 e 2016).
Apesar da extensa bibliografia que lhe faz referência, o conjunto edificado e a antiga quinta dos Duques de Aveiro em Azeitão continuam a carecer não só de um estudo monográfico de fundo como de estudos parcelares: a) que esclareçam a sua intrincada e praticamente desconhecida cronologia; b) que se dediquem à história da envolvente paisagística do núcleo construído (jardins, pomares, horta, mata, etc.); c) que investiguem não só as especificidades da sua organização espacial, como ponham em perspectiva a decoração que sabemos ter sido escolhida para os seus espaços, a saber, os azulejos, os estuques, a pintura decorativa e a obra de marcenaria. O estudo que se apresenta pretende, justamente, desenvolver novo conhecimento no âmbito da alínea c).
Original language | Portuguese |
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Title of host publication | Actas do 5.º Congresso Internacional |
Subtitle of host publication | Casa Nobre - um património para o futuro |
Place of Publication | Arcos de Valdevez |
Publisher | Município de Arcos de Valdevez |
Pages | 769-783 |
Number of pages | 14 |
Volume | Tomo 2 |
ISBN (Electronic) | 978-972-9136-87-0 |
Publication status | Published - Nov 2020 |
Event | V Congresso Internacional - Casa Nobre um Património para o Futuro - Casa das Artes, Arcos de Valdevez, Portugal Duration: 1 Dec 2017 → 2 Dec 2017 |
Conference
Conference | V Congresso Internacional - Casa Nobre um Património para o Futuro |
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Country/Territory | Portugal |
City | Arcos de Valdevez |
Period | 1/12/17 → 2/12/17 |
Keywords
- Arquitectura
- Época Moderna