Abstract
José-Augusto França foi o mais importante historiador de arte
do século XX em Portugal e foi responsável por estabelecer um
cânone historiográfico na historiografia da arte do século XIX
e XX. J.-A. França trabalhou como crítico e como historiador,
elaborando uma narrativa historiográfica baseada na Sociologia da Arte aprendida com Pierre Francastel em Paris, que não
deixou contudo de, em última análise, promover os próprios
valores artísticos que defendeu enquanto crítico ao longo da
segunda metade do século XX, os do surrealismo e depois os do
abstraccionismo. Esta narrativa elegeu Paris como modelo artístico e cultural, decretando um permanente atraso da arte em
Portugal face a esse modelo. Apesar de os historiadores da arte
que lhe sucederam avançarem algumas críticas à História da
Arte de J.-A. França, ele continuou porém a ser uma referência
cimeira na História da Arte e as suas cronologias, conceitos
históricos e extensivos inventários de factos nunca foram questionados de forma aprofundada e foram usados como fonte em trabalhos de História da Arte seguintes, até hoje. Esta História
da Arte defende ainda a ideia de um cânone historiográfico e,
perante a sua incapacidade de produzir um novo, insiste no
velho. Este artigo procura contribuir para a análise crítica e
histórica do cânone de José-Augusto França e do seu legado,
abordando como estudo de caso dois exemplos da geração subsequente de historiadores da arte do século XX.
José-Augusto França was the most important art historian in Portugal in the XXth century and was responsible for establishing a historiographic canon for the portuguese XIXth and XXth century art history. Working both as art critic and art historian José-Augusto França promoted a narrative based on the sociology of art learned with Pierre Francastel, with whom he studied in Paris, which eventually promoted the surrealist and abstraccionist art he defended as a critic. This narrative elected Paris as an artistic and cultural role model and constantly decreted a portuguese delay in face of that model. Although some of the later art historians tried to criticize França’s approach to art history, he nevertheless kept being a major reference to later generations of art historians and his cronologies, historic concepts and extensive inventories of facts were never fully questioned and were used as sources for later art history work. This kind of art history still defends the idea of a canon in the art history discourse, and feeling unable to produce a new one, it insists on the old one. This article aims to contribute for the critical and historic analysis of José-Augusto França’s canon and legacy, approaching briefly two examples as case-studies from the subsequent generation of art historians of the XXth century.
do século XX em Portugal e foi responsável por estabelecer um
cânone historiográfico na historiografia da arte do século XIX
e XX. J.-A. França trabalhou como crítico e como historiador,
elaborando uma narrativa historiográfica baseada na Sociologia da Arte aprendida com Pierre Francastel em Paris, que não
deixou contudo de, em última análise, promover os próprios
valores artísticos que defendeu enquanto crítico ao longo da
segunda metade do século XX, os do surrealismo e depois os do
abstraccionismo. Esta narrativa elegeu Paris como modelo artístico e cultural, decretando um permanente atraso da arte em
Portugal face a esse modelo. Apesar de os historiadores da arte
que lhe sucederam avançarem algumas críticas à História da
Arte de J.-A. França, ele continuou porém a ser uma referência
cimeira na História da Arte e as suas cronologias, conceitos
históricos e extensivos inventários de factos nunca foram questionados de forma aprofundada e foram usados como fonte em trabalhos de História da Arte seguintes, até hoje. Esta História
da Arte defende ainda a ideia de um cânone historiográfico e,
perante a sua incapacidade de produzir um novo, insiste no
velho. Este artigo procura contribuir para a análise crítica e
histórica do cânone de José-Augusto França e do seu legado,
abordando como estudo de caso dois exemplos da geração subsequente de historiadores da arte do século XX.
José-Augusto França was the most important art historian in Portugal in the XXth century and was responsible for establishing a historiographic canon for the portuguese XIXth and XXth century art history. Working both as art critic and art historian José-Augusto França promoted a narrative based on the sociology of art learned with Pierre Francastel, with whom he studied in Paris, which eventually promoted the surrealist and abstraccionist art he defended as a critic. This narrative elected Paris as an artistic and cultural role model and constantly decreted a portuguese delay in face of that model. Although some of the later art historians tried to criticize França’s approach to art history, he nevertheless kept being a major reference to later generations of art historians and his cronologies, historic concepts and extensive inventories of facts were never fully questioned and were used as sources for later art history work. This kind of art history still defends the idea of a canon in the art history discourse, and feeling unable to produce a new one, it insists on the old one. This article aims to contribute for the critical and historic analysis of José-Augusto França’s canon and legacy, approaching briefly two examples as case-studies from the subsequent generation of art historians of the XXth century.
Translated title of the contribution | The legacy of José-Augusto França for the writing of History of Art in Portugal: critical characterization of the canon and of examples of his persistence |
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Original language | Portuguese |
Pages (from-to) | 61-88 |
Number of pages | 29 |
Journal | Práticas da História |
Volume | 1 |
Issue number | 1 |
DOIs | |
Publication status | Published - 2015 |
Keywords
- História da Arte
- José Augusto-França
- Portugal
- Art History