Abstract
Neste artigo proponho uma reflexão a partir dos materiais produzidos e
recebidos na prisão por uma prisioneira política maoista durante os anos finais da longa ditadura portuguesa (1926-1974). Através deles, com base na partilha do sensível, segundo a proposta de Jacques Rancière, acede-se ao conhecimento da experiência de resistência, assente nas suas memórias traumáticas. As memórias coletivas sensíveis, construtoras de sentidos de pertença, estão ligadas aos grupos, refletindo lugares sociais e perspetivas diferenciadas. Mercê de conjunturas determinadas, algumas podem ultrapassar as dimensões do grupo e implantarem-se como memórias da sociedade. Na linha de Rancière, a partilha do sensível, essa inscrição da ordem do mundo nas categorias do visível e do dizível – o que se pode ver e o que é invisível, o se ouve ou é mero ruído -, é interditada quando se recusa a ordem da dominação e a negação sensível de um mundo comum.
In this article I propose a reflection from the materials produced and received in
prison by a Maoist political prisoner during the final years of the long Portuguese
dictatorship (1926-1974). Through these materials, based on the «partage du
sensible», according to Jacques Rancière's proposal, we can access to knowledge of the experience of resistance, based on Aurora Rodrigues’s traumatic memories. Sensitive collective memories, which build a sense of belonging, are linked to groups, reflecting social places and different perspectives. Due to certain circumstances, some may go beyond the dimensions of the group and establish themselves as social memories. In Rancière's perspective, the sharing of the sensitive, this inscription of the order of the world in the categories of what can be seen and what is invisible, what is heard or is mere noise, is prohibited when the people refuses the order of domination and the sensitive negation of a common world.
recebidos na prisão por uma prisioneira política maoista durante os anos finais da longa ditadura portuguesa (1926-1974). Através deles, com base na partilha do sensível, segundo a proposta de Jacques Rancière, acede-se ao conhecimento da experiência de resistência, assente nas suas memórias traumáticas. As memórias coletivas sensíveis, construtoras de sentidos de pertença, estão ligadas aos grupos, refletindo lugares sociais e perspetivas diferenciadas. Mercê de conjunturas determinadas, algumas podem ultrapassar as dimensões do grupo e implantarem-se como memórias da sociedade. Na linha de Rancière, a partilha do sensível, essa inscrição da ordem do mundo nas categorias do visível e do dizível – o que se pode ver e o que é invisível, o se ouve ou é mero ruído -, é interditada quando se recusa a ordem da dominação e a negação sensível de um mundo comum.
In this article I propose a reflection from the materials produced and received in
prison by a Maoist political prisoner during the final years of the long Portuguese
dictatorship (1926-1974). Through these materials, based on the «partage du
sensible», according to Jacques Rancière's proposal, we can access to knowledge of the experience of resistance, based on Aurora Rodrigues’s traumatic memories. Sensitive collective memories, which build a sense of belonging, are linked to groups, reflecting social places and different perspectives. Due to certain circumstances, some may go beyond the dimensions of the group and establish themselves as social memories. In Rancière's perspective, the sharing of the sensitive, this inscription of the order of the world in the categories of what can be seen and what is invisible, what is heard or is mere noise, is prohibited when the people refuses the order of domination and the sensitive negation of a common world.
Translated title of the contribution | The memory seal: Aurora Rodrigues' sensitive archive and resistance to the Portuguese dictatorship |
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Original language | Portuguese |
Pages (from-to) | 39-55 |
Number of pages | 17 |
Journal | Revista Memória em Rede |
Volume | 13 |
Issue number | 24 |
DOIs | |
Publication status | Published - 2021 |
Keywords
- Ditadura
- Portugal
- Resistência
- Partilha do sensível
- Dictatorship
- Resistance
- Partage du sensible