O Jornalismo no Estado Novo: censura, propaganda e coação

Ana Cabrera (Editor/Coordinator)

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Abstract

O Estado Novo, criado no processo da Revolução Nacional por Salazar, está associado a um conjunto de ações estratégicas, cuja função era a de reforçar a capacidade de estruturar e arbitrar autoritariamente os equilíbrios fundamentais, embora contraditórios, entre as elites políticas, os interesses dominantes e a ação governativa. (Rosas:1996) O objetivo era o controlo de todos os organismos e estruturas do Estado. Nesse sentido um primeiro passo foi a elaboração de uma nova Constituição que seria aprovada através de um plebiscito que se realizou em 19 de março de 1933, que entraria em vigor a 11 de abril do mesmo ano. Mas os meses que se seguem à aprovação da Constituição são de uma intensa atividade legislativa: cria-se a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, o Estatuto Nacional do Trabalho, os Grémios, os Sindicatos Nacionais, e mais tarde a Mocidade Portuguesa. Também as estruturas da censura trabalham no sentido de reforçar a sua autoridade e controlo junto da imprensa e dos jornalistas, através da criação da Direção Geral dos Serviços de Censura em 1933. Apesar de todo o aparelho repressivo houve ocorrências de contestação e oposição a Salazar que acabavam sempre esmagadas pela intervenção da polícia política, pela ação dos Tribunais Plenários ou pelas diversas outras formas de repressão, entre elas o controlo da informação. Neste capítulo o nosso objetivo é compreender que jornalismo era possível realizar sob a tutela da censura e das estruturas de controlo da sociedade, criadas pelo Estado Novo? E analisar as diferenças entre jornais. Assim selecionámos quatro acontecimentos que envolveram governantes do Estado Novo, que despertaram o interesse do público e a atenção dos jornais. São esses acontecimentos: 1. O jornalismo no processo de construção do Estado Novo — o Plebiscito e a Constituição de 1933; 2. O atentado a Salazar em Lisboa, em 4 de julho de 1937; 3. As eleições para a Presidência da República, em 1958: candidatura de Humberto Delgado; 4. Marcello Caetano, os jornais e os jornalistas, em 1969. A análise da cobertura jornalística destes acontecimentos será feita a partir das narrativas impressas no Diário de Notícias; Século; Diário de Lisboa e Diário Popular. As peças foram selecionadas com base nas datas daquelas ocorrências, cobrindo o período em que se observa a atenção jornalística sobre os referidos acontecimentos. A metodologia baseia-se na análise e critica da documentação. Concluímos acerca das diferenças entre os jornais selecionados ao nível da construção das narrativas, da seleção das notícias e do respetivo ângulo de abordagem, da titulação e da subserviência perante o regime.
Original languagePortuguese
Title of host publicationImprensa Portuguesa
Subtitle of host publicationuma História
EditorsAna Cabrera, Helena Lima
Place of PublicationLisboa
PublisherICNOVA – Instituto de Comunicação da Nova
Pages271-312
Number of pages42
ISBN (Print)978-989-9048-22-5
DOIs
Publication statusPublished - 2022

Publication series

NameLivros ICNOVA

Keywords

  • Marcello Caetano
  • Jornalismo
  • Estado Novo
  • Censura
  • Salazar
  • Humberto Delgado

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