O futuro e o condicional no texto jornalístico: das formas e construções linguísticas às configurações textuais

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Abstract

As formas verbais de futuro (do indicativo) e de condicional são amplamente estudadas no domínio do texto jornalístico, especialmente no que diz respeito à marcação da enunciação mediatizada (cf. Guentchéva, ed. 1996). O condicional, em particular, é, na generalidade das línguas românicas, um marcador privilegiado de factos relatados, ou seja, da atribuição da informação a outra fonte enunciativa, o que permite a desresponsabilização do sujeito enunciador (no caso, o jornalista) em relação às afirmações produzidas. Uma das designações mais comuns para este uso do condicional é,  exatamente,  a  de  “condicional  jornalístico”. No português europeu, as formas de futuro concorrem com as de condicional na marcação de factos relatados, através de um quadro distribucional claro, dependente de categorias gramaticais como o tempo, o aspeto e a modalidade. Este uso do futuro é, aparentemente, único entre as línguas românicas (cf. Squartini, 2001), estando, inclusivamente, ausente do português brasileiro. No  entanto,  a  designação  de  “uso  jornalístico”  é  redutora,  por  várias  razões.  Por  um   lado, as formas de futuro e de condicional são utilizadas no domínio jornalístico em todo o seu leque de valores, que vai do temporal ao modal, tanto epistémico como não epistémico, frequentemente hipotético. Por outro lado, no que diz respeito à enunciação mediatizada, as ditas formas podem ser usadas como marcadores de factos relatados, mas também de factos inferidos. Finalmente, a distribuição dos diferentes valores do futuro e do condicional no domínio jornalístico interage com a construção do género textual em causa (cf. Bronckart, 2008). O trabalho que se pretende apresentar vem dar continuidade ao nosso estudo da distribuição das formas de futuro e condicional em texto jornalístico real, pelo que se apoia na análise das formas em corpora de diferentes tipos. Uma coleção como o CETEMPúblico, por exemplo, permite aferir a frequência das formas, mas diz muito pouco sobre a sua distribuição em géneros concretos. A investigação conduzida anteriormente tinha já mostrado claramente uma relação muito próxima entre determinados valores das formas em causa e géneros específicos, como a notícia e o artigo de opinião. Assim, para este trabalho, foram constituídos dois corpora distintos: por um lado, uma coleção de artigos de opinião, recolhidos em diferentes publicações online recentes, num período de 15 dias; por outro lado, um conjunto de notícias variadas, igualmente da imprensa portuguesa online, recolhidas num único desses dias. A análise das ocorrências mostra a relação íntima entre os valores linguísticos construídos e a construção dos géneros textuais. Nomeadamente, torna evidente que a distinção entre opinião e notícia é insuficiente para dar conta da multiplicidade de interações dinâmicas entre formas e textos, e que o futuro e/ou o condicional não têm, por exemplo, os mesmos valores numa notícia desportiva ou numa de âmbito criminal. Pretende-se, assim, dar conta do modo como o futuro e o condicional contribuem para a construção dos géneros textuais, e como os géneros ajudam a definir os valores das ocorrências das formas.
Original languagePortuguese
Pages106-107
Number of pages2
Publication statusPublished - 2015
Event4.ª Conferência Internacional em Gramática e Texto - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da NOVA, Lisboa, Portugal
Duration: 2 Jul 20154 Jul 2015

Conference

Conference4.ª Conferência Internacional em Gramática e Texto
Abbreviated titleGRATO2015
Country/TerritoryPortugal
CityLisboa
Period2/07/154/07/15

Keywords

  • género de texto
  • texto jornalístico
  • futuro
  • condicional
  • Tempos verbais

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