O Brasil Musical e a ópera nos salões do Rio de Janeiro

Em 1848, no Rio de Janeiro, o editor Fillippone lançou O Brasil Musical, um dos mais longevos periódicos brasileiros especializados na publicação de partituras. A Divisão de Música e Arquivo Sonoro da Fundação Biblioteca Nacional (RJ) possui uma coleção que, apesar de algumas lacunas, vai até o número 554. São quase 30 anos de atividade, entre 1848 e 1875, o que faz dele o periódico especializado em partituras com maior número de publicações, guardados nessa instituição. Era um periódico quinzenal, que se dividia na mesma proporção entre o repertório para piano solo e aquele para piano e voz. O repertório visita um número variadíssimo de autores e gêneros, oferecendo um panorama revelador daquilo que se fazia ouvir nos salões da capital do império. A maior parte do repertório vocal aí publicado é composto de árias de ópera, mas temos alguns exemplos de canções nacionais e estrangeiras. Nesta comunicação, gostaríamos de ressaltar o papel desse importante periódico na divulgação, disseminação e prática do repertório operático no Rio de Janeiro. Será possível mostrar que ele foi responsável pela divulgação de um repertório dramático que vai muito além daquele que hoje em dia é considerado “canônico”. Na verdade, veremos que boa parte desse repertório que circulava no Brasil naqueles dias (bom notar que o periódico circulava para além do Rio de Janeiro através de depósitos em outras cidades estratégicas) encontra-se hoje em dia silenciado e completamente esquecido. Seja como for, vale a pena ressaltar que, apesar do repertório operático ser na sua maioria estrangeiro, algumas das reduções para piano são feitas no Rio de Janeiro por Antonio Tornaghi ou por Ercole Pinzarrone. Sendo assim, o periódico oferece algumas árias em versões exclusivas, feitas no Brasil. Para além disso, algumas das árias são apresentadas em versões mais acessíveis ao público em geral, com escolha de tonalidades mais graves. Ou seja, para além do repertório em si, O Brasil Musical também nos revela algumas especificidades das práticas musicais usuais nos salões do Brasil oitocentista.