TY - JOUR
T1 - Na Vanguarda da Modernidade: o dinamismo sinergético de Marck Athias, Celestino da Costa e Ferreira de Mira na primeira metade do séc. XX
AU - Amaral, Isabel Maria da Silva Pereira
PY - 2005
Y1 - 2005
N2 - A primeira metade do séc. XX foi determinante na modernização da ciência portuguesa, em particular, da medicina. Neste período foram erguidas as estruturas sociais, científicas e epistemológicas, necessárias ao design de uma nova mentalidade científica, capaz de arrastar o país para o progresso tão desejado pelos liberais. São pilares desta nova tendência, a reforma do ensino médico, o aparecimento de novas especialidades, a criação de laboratórios e institutos de investigação, a formação de técnicos e investigadores, a criação de sociedades científicas e de periódicos especializados. A pouco e pouco se foi privilegiando um novo modelo de ensino universitário em que os docentes passaram a ser julgados não pela sua erudição livresca, mas pela sua capacidade de produzir saber original com base na experimentação. O marco mais emblemático deste movimento de modernização científica ocorreu em Portugal, em 1911. Com a reforma do ensino universitário foram criadas as condições para o aparecimento de escolas de investigação que serviriam de suporte à diversificação disciplinar e à especialização. Neste contexto, a Faculdade de Medicina de Lisboa emergiu como um caso particular por ter conseguido, talvez como nenhuma outra, tirar partido das bases lançadas pela reforma. Embora não estejamos na posse de todos os dados, podemos adiantar algumas razões para que assim acontecesse: a campanha a favor da medicina experimental desenvolvida, sobretudo, nos planos ideológico e político por Miguel Bombarda e Sousa Martins, a partir dos finais do séc. XIX, e, a presença naquela faculdade, de um conjunto de jovens médicos com uma formação adquirida no estrangeiro, do qual se destacam, Câmara Pestana e Marck Athias. Câmara Pestana, fundou em Portugal o primeiro instituto de investigação médica de bacteriologia, que se tornou o berço da investigação experimental a partir de 1892, o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana. Todavia, dado o seu falecimento precoce não conseguiu encetar a mudança esperada, pela sua intervenção directa. A acção desenvolvida pela escola de investigação de histofisiologia Marck Athias entre 1897 e 1943 em Lisboa, criou precedentes para a visualização de duma capacidade de intervenção iconoclasta e irreverente na comunidade científica do seu tempo. Os seus principais discípulos fazem parte da "geração de 1911", uma geração de médicos que definiu o eixo do progresso científico em Portugal balizando a sua capacidade de intervenção na Faculdade de Medicina de Lisboa, nos Hospitais civis, na Junta de Educação Nacional e nos institutos de investigação. De entre estes destacam-se Augusto Celestino da Costa e Matias Boleto Ferreira de Mira, pioneiros na fundação de instituições basilares de apoio à investigação biomédica: a Junta de Educação Nacional e o Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral. A primeira operava no âmbito da política científica nacional, gerindo os recursos estatais disponíveis para a criação de um tecido intelectual modernizado; o segundo intervinha no desenvolvimento da investigação e da formação e quadros científicos especializados. Este artigo pretende reflectir sobre o processo de modernização da comunidade científica portuguesa na primeira metade do séc. XX a partir das contribuições de Marck Athias, e dois dos seus discípulos mais carismáticos. Este trio de médicos reunindo mestre e discípulos esteve sem dúvida, na vanguarda da modernidade científica portuguesa definida de forma sinergética e tácita na modernização do tecido intelectual português. A primeira metade do séc. XX foi determinante na modernização da ciência portuguesa, em particular, da medicina. Neste período foram erguidas as estruturas sociais, científicas e epistemológicas, necessárias ao design de uma nova mentalidade científica, capaz de arrastar o país para o progresso tão desejado pelos liberais. São pilares desta nova tendência, a reforma do ensino médico, o aparecimento de novas especialidades, a criação de laboratórios e institutos de investigação, a formação de técnicos e investigadores, a criação de sociedades científicas e de periódicos especializados. A pouco e pouco se foi privilegiando um novo modelo de ensino universitário em que os docentes passaram a ser julgados não pela sua erudição livresca, mas pela sua capacidade de produzir saber original com base na experimentação. O marco mais emblemático deste movimento de modernização científica ocorreu em Portugal, em 1911. Com a reforma do ensino universitário foram criadas as condições para o aparecimento de escolas de investigação que serviriam de suporte à diversificação disciplinar e à especialização. Neste contexto, a Faculdade de Medicina de Lisboa emergiu como um caso particular por ter conseguido, talvez como nenhuma outra, tirar partido das bases lançadas pela reforma. Embora não estejamos na posse de todos os dados, podemos adiantar algumas razões para que assim acontecesse: a campanha a favor da medicina experimental desenvolvida, sobretudo, nos planos ideológico e político por Miguel Bombarda e Sousa Martins, a partir dos finais do séc. XIX, e, a presença naquela faculdade, de um conjunto de jovens médicos com uma formação adquirida no estrangeiro, do qual se destacam, Câmara Pestana e Marck Athias. Câmara Pestana, fundou em Portugal o primeiro instituto de investigação médica de bacteriologia, que se tornou o berço da investigação experimental a partir de 1892, o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana. Todavia, dado o seu falecimento precoce não conseguiu encetar a mudança esperada, pela sua intervenção directa. A acção desenvolvida pela escola de investigação de histofisiologia Marck Athias entre 1897 e 1943 em Lisboa, criou precedentes para a visualização de duma capacidade de intervenção iconoclasta e irreverente na comunidade científica do seu tempo. Os seus principais discípulos fazem parte da "geração de 1911", uma geração de médicos que definiu o eixo do progresso científico em Portugal balizando a sua capacidade de intervenção na Faculdade de Medicina de Lisboa, nos Hospitais civis, na Junta de Educação Nacional e nos institutos de investigação. De entre estes destacam-se Augusto Celestino da Costa e Matias Boleto Ferreira de Mira, pioneiros na fundação de instituições basilares de apoio à investigação biomédica: a Junta de Educação Nacional e o Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral. A primeira operava no âmbito da política científica nacional, gerindo os recursos estatais disponíveis para a criação de um tecido intelectual modernizado; o segundo intervinha no desenvolvimento da investigação e da formação e quadros científicos especializados. Este artigo pretende reflectir sobre o processo de modernização da comunidade científica portuguesa na primeira metade do séc. XX a partir das contribuições de Marck Athias, e dois dos seus discípulos mais carismáticos. Este trio de médicos reunindo mestre e discípulos esteve sem dúvida, na vanguarda da modernidade científica portuguesa definida de forma sinergética e tácita na modernização do tecido intelectual português.
AB - A primeira metade do séc. XX foi determinante na modernização da ciência portuguesa, em particular, da medicina. Neste período foram erguidas as estruturas sociais, científicas e epistemológicas, necessárias ao design de uma nova mentalidade científica, capaz de arrastar o país para o progresso tão desejado pelos liberais. São pilares desta nova tendência, a reforma do ensino médico, o aparecimento de novas especialidades, a criação de laboratórios e institutos de investigação, a formação de técnicos e investigadores, a criação de sociedades científicas e de periódicos especializados. A pouco e pouco se foi privilegiando um novo modelo de ensino universitário em que os docentes passaram a ser julgados não pela sua erudição livresca, mas pela sua capacidade de produzir saber original com base na experimentação. O marco mais emblemático deste movimento de modernização científica ocorreu em Portugal, em 1911. Com a reforma do ensino universitário foram criadas as condições para o aparecimento de escolas de investigação que serviriam de suporte à diversificação disciplinar e à especialização. Neste contexto, a Faculdade de Medicina de Lisboa emergiu como um caso particular por ter conseguido, talvez como nenhuma outra, tirar partido das bases lançadas pela reforma. Embora não estejamos na posse de todos os dados, podemos adiantar algumas razões para que assim acontecesse: a campanha a favor da medicina experimental desenvolvida, sobretudo, nos planos ideológico e político por Miguel Bombarda e Sousa Martins, a partir dos finais do séc. XIX, e, a presença naquela faculdade, de um conjunto de jovens médicos com uma formação adquirida no estrangeiro, do qual se destacam, Câmara Pestana e Marck Athias. Câmara Pestana, fundou em Portugal o primeiro instituto de investigação médica de bacteriologia, que se tornou o berço da investigação experimental a partir de 1892, o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana. Todavia, dado o seu falecimento precoce não conseguiu encetar a mudança esperada, pela sua intervenção directa. A acção desenvolvida pela escola de investigação de histofisiologia Marck Athias entre 1897 e 1943 em Lisboa, criou precedentes para a visualização de duma capacidade de intervenção iconoclasta e irreverente na comunidade científica do seu tempo. Os seus principais discípulos fazem parte da "geração de 1911", uma geração de médicos que definiu o eixo do progresso científico em Portugal balizando a sua capacidade de intervenção na Faculdade de Medicina de Lisboa, nos Hospitais civis, na Junta de Educação Nacional e nos institutos de investigação. De entre estes destacam-se Augusto Celestino da Costa e Matias Boleto Ferreira de Mira, pioneiros na fundação de instituições basilares de apoio à investigação biomédica: a Junta de Educação Nacional e o Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral. A primeira operava no âmbito da política científica nacional, gerindo os recursos estatais disponíveis para a criação de um tecido intelectual modernizado; o segundo intervinha no desenvolvimento da investigação e da formação e quadros científicos especializados. Este artigo pretende reflectir sobre o processo de modernização da comunidade científica portuguesa na primeira metade do séc. XX a partir das contribuições de Marck Athias, e dois dos seus discípulos mais carismáticos. Este trio de médicos reunindo mestre e discípulos esteve sem dúvida, na vanguarda da modernidade científica portuguesa definida de forma sinergética e tácita na modernização do tecido intelectual português. A primeira metade do séc. XX foi determinante na modernização da ciência portuguesa, em particular, da medicina. Neste período foram erguidas as estruturas sociais, científicas e epistemológicas, necessárias ao design de uma nova mentalidade científica, capaz de arrastar o país para o progresso tão desejado pelos liberais. São pilares desta nova tendência, a reforma do ensino médico, o aparecimento de novas especialidades, a criação de laboratórios e institutos de investigação, a formação de técnicos e investigadores, a criação de sociedades científicas e de periódicos especializados. A pouco e pouco se foi privilegiando um novo modelo de ensino universitário em que os docentes passaram a ser julgados não pela sua erudição livresca, mas pela sua capacidade de produzir saber original com base na experimentação. O marco mais emblemático deste movimento de modernização científica ocorreu em Portugal, em 1911. Com a reforma do ensino universitário foram criadas as condições para o aparecimento de escolas de investigação que serviriam de suporte à diversificação disciplinar e à especialização. Neste contexto, a Faculdade de Medicina de Lisboa emergiu como um caso particular por ter conseguido, talvez como nenhuma outra, tirar partido das bases lançadas pela reforma. Embora não estejamos na posse de todos os dados, podemos adiantar algumas razões para que assim acontecesse: a campanha a favor da medicina experimental desenvolvida, sobretudo, nos planos ideológico e político por Miguel Bombarda e Sousa Martins, a partir dos finais do séc. XIX, e, a presença naquela faculdade, de um conjunto de jovens médicos com uma formação adquirida no estrangeiro, do qual se destacam, Câmara Pestana e Marck Athias. Câmara Pestana, fundou em Portugal o primeiro instituto de investigação médica de bacteriologia, que se tornou o berço da investigação experimental a partir de 1892, o Instituto Bacteriológico Câmara Pestana. Todavia, dado o seu falecimento precoce não conseguiu encetar a mudança esperada, pela sua intervenção directa. A acção desenvolvida pela escola de investigação de histofisiologia Marck Athias entre 1897 e 1943 em Lisboa, criou precedentes para a visualização de duma capacidade de intervenção iconoclasta e irreverente na comunidade científica do seu tempo. Os seus principais discípulos fazem parte da "geração de 1911", uma geração de médicos que definiu o eixo do progresso científico em Portugal balizando a sua capacidade de intervenção na Faculdade de Medicina de Lisboa, nos Hospitais civis, na Junta de Educação Nacional e nos institutos de investigação. De entre estes destacam-se Augusto Celestino da Costa e Matias Boleto Ferreira de Mira, pioneiros na fundação de instituições basilares de apoio à investigação biomédica: a Junta de Educação Nacional e o Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral. A primeira operava no âmbito da política científica nacional, gerindo os recursos estatais disponíveis para a criação de um tecido intelectual modernizado; o segundo intervinha no desenvolvimento da investigação e da formação e quadros científicos especializados. Este artigo pretende reflectir sobre o processo de modernização da comunidade científica portuguesa na primeira metade do séc. XX a partir das contribuições de Marck Athias, e dois dos seus discípulos mais carismáticos. Este trio de médicos reunindo mestre e discípulos esteve sem dúvida, na vanguarda da modernidade científica portuguesa definida de forma sinergética e tácita na modernização do tecido intelectual português.
M3 - Article
SN - 1645-3530
VL - 5
SP - 263
EP - 282
JO - Estudos do Século XX
JF - Estudos do Século XX
ER -