Abstract
No romance História do Cerco de Lisboa, José Saramago constrói uma metaficção historiográfica e uma narrativa contrafactual, cuja produção demonstra que “tudo quanto não for vida, é literatura, A história também”. Em sintonia com a Poética Pósmodernista e muito informado pela Nova História, neste livro Saramago faz um questionamento da História e sobretudo dos modos de a fazer. Simultaneamente, algumas vezes o autor submete as grandes figuras históricas a um processo de carnavalização, à maneira de Bahktine e Kristeva. Numa intriga em que se cruzam dois fios narrativos, passados em tempos diferentes, e em que se conjugam estratégias narrativas de coincidência e contrafactualidade (Dannenberg, 2008), o autor expõe os processos de construção da História e da Ficção, mostrando o que há de comum entre as duas e destruindo a ilusão da pretensa “verdade” histórica. Neste entendimento, o evento histórico que dá título e assunto ao romance é submetido a uma análise do seu tratamento feito pelos historiadores, operação que começa com um acto impulsivo do protagonista que, trabalhando como revisor, altera a verdade dos factos contados pela História oficial, vindo posteriormente a construir uma versão alternativa, contrafactual, operacionalizando o modelo “what if…”. Segundo Dannenberg (2008), na metaficção historiográfica este procedimento “is used to destabilize the idea of historiagraphic authority”, e para Ryan (2013), ele leva o leitor a comparar os mundos ficcional e real, evitando uma total imersão no primeiro. Na mesma linha, Hutcheon
considera que “a metaficção historiográfica obriga o leitor não só ao reconhecimento dos traços textualizados do passado literário e histórico, mas também à tomada de consciência do que – através da ironia – foi feito a esses traços”. Compreende-se, pois, que Saramago afirme que este não é um romance histórico, apesar das aparências, mas antes um livro em que ele quer dizer “que a verdade histórica não existe”
considera que “a metaficção historiográfica obriga o leitor não só ao reconhecimento dos traços textualizados do passado literário e histórico, mas também à tomada de consciência do que – através da ironia – foi feito a esses traços”. Compreende-se, pois, que Saramago afirme que este não é um romance histórico, apesar das aparências, mas antes um livro em que ele quer dizer “que a verdade histórica não existe”
Original language | Portuguese |
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Pages | 9-9 |
Number of pages | 1 |
Publication status | Published - 2020 |
Event | International Conference Historical Fiction, Fictional History, and Historical Reality - NOVA FCSH, Lisboa, Portugal Duration: 5 Mar 2020 → 7 Mar 2020 https://historicalnovelconferencelisbon2020.wordpress.com/ |
Conference
Conference | International Conference Historical Fiction, Fictional History, and Historical Reality |
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Country/Territory | Portugal |
City | Lisboa |
Period | 5/03/20 → 7/03/20 |
Internet address |
Keywords
- José Saramago
- História do Cerco de Lisboa
- Metaficção
- Historiográfica
- Contrafactualidade