Meta-hibridismo e a reativação dos arquivos da arte da performance portuguesa

Translated title of the contribution: Meta-hybridity and the reactivation of Portuguese performance art archives

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Abstract

Quando olhamos hoje para o panorama das artes não podemos deixar de dar conta de uma cada vez maior intensificação e amplificação do hibridismo artístico. Contexto, que é produzido, intencionalmente por diversos criadores de áreas disciplinares distintas, mas sem que isso se traduza, paradoxalmente, tanto no acentuar da dimensão transgressiva do híbrido, como de características de “performatividade expandida” (Phelan, 1993 e Fischer-Lichte, 2019); e mesmo, como proponho neste artigo, de “meta-hibridismo” em relação ao arquivo das artes experimentais e da performance. Arquivo que começa a ser recuperado em diversos contextos artísticos e por diversos artistas, que prestam homenagem a esta(s) história(s) de arte que têm permanecido ocultas e desconhecidas, dando-lhes visibilidade e contribuindo para a sua reativação (Auslander, 2018) em diversos media, desde a performance, à dança e ao cinema experimental. Para esta análise partiremos do caso português, cuja história da performance arte se encontra na atualidade em construção, através da recoleção de fragmentos das suas história(s) nos domínios da investigação científica mas também das artes, num processo de “uma imensa paciência futura” como antecipava, nos anos 80, Ernesto de Sousa, um dos críticos e comissários contemporâneos à época, mas sem que se tenha ainda estabelecido em Portugal (em 2021), um arquivo público que funcione como plataforma de visibilidade e disseminação destas mesmas histórias. É neste contexto particular onde se justapõe este processo de progressiva construção destas histórias locais/periféricas da arte da performance, com a emergência de uma “era da performance”, como afirma André Lepecki (2016), que têm surgido alguns projetos artísticos que têm contribuído para a sua reativação, a partir de um meta-hibridismo, ou seja, conjugando uma abordagem meta-discursiva a estes projetos híbridos, “reconhecendo”, reivindicando e homenageando assim uma herança genealógica no campo híbrido da performatividade expandida. São exemplo, entre outros, o projeto “As Práticas Propiciatórias de Acontecimentos Futuros” (2018), da coreógrafa Vera Mantero, com performance e co-criação de Henrique Furtado Vieira, Paulo Quedas e Vânia Rovisco, e que teve por base as discussões sobre arte de vanguarda e arte popular de Ernesto de Sousa, que conjugava as atividades de crítico e comissário, que já referenciamos acima, com as de docente, cineasta e performer e que teve um importante papel de intermediação entre o panorama artístico português e internacional durante os anos 60-80; e o filme “Homem Pikante — Diálogos kom Pimenta” (2018), do cineasta experimental Edgar Pêra e em diálogo, como indica o título, com Alberto Pimenta, poeta e performer português exilado na Alemanha, onde foi professor de literatura, durante o período da ditadura portuguesa que terminou em 1974. Ambos os projetos dão conta de aspetos artísticos (e biográficos) das obras destes percursores ao mesmo tempo que estabelecem com eles abordagens poéticas e meta-discursivas híbridas, que configuram reativações singulares destes arquivos, problematizando o desconhecimento destas histórias da performance no contexto artístico atual. A partir da discussão conceptual do conceito de “meta-hibridismo” que tenho vindo a desenvolver (Madeira, 2020), a partir das abordagens de várias áreas disciplinares, proponho-me analisar estes projetos e os seus contributos para a construção da história da performance portuguesa nas suas dinâmicas contemporâneas.


When we look at the panorama of the arts today, we cannot help but notice an ever greater intensification and amplification of artistic hybridity. This panorama is produced intentionally by different creators, based on di-verse disciplinary areas. It does not, however and paradoxically, seem to accentuate the structural transgressive di-mension of the hybrid, as much as the characteristics of “expanded performance” (Phelan 1993 and Fischer-Lichte 2019); or even, as I propose in this article, those of “meta-hybridity” in relation to the archiving of experimental arts and performance. Such “meta-hybridity” archiving has been developed by artists intending to recover and give vis-ibility to the unknown histories of experimental art and performance, paying tribute to their precursors, as part as their own genealogical heritage in the hybrid field and also in a performative dialogue with their own artistic work. This analysis will be based on the Portuguese case, whose history of performance art is currently under construction, through the collection of fragments of its history by both researchers and artists. This is a process of “immense future patience”, as predicted, in the 80s, by the prominent critic and curator at the time, Ernesto de Sousa. It is currently tak-ing place without a public archive having yet (in 2021) been established in Portugal, which could be used as a platform for the visibility and dissemination of these performance histories. It is in this particular context, where the progressive construction of these local / peripheral unknown histories of performance art are juxtaposed with the emergence of an “age of performance”, as stated by André Lepecki (2016), that some artistic projects have contributed to its reactiva-tion (Auslander 2018) in media, ranging from performance and dance to experimental cinema. These have been based on meta-hybridity; in other words, combining a meta-discursive approach to these projects and thus “recognizing” a single hybrid history. One example of this is the project “Práticas Propiciatórias para Eventos Futuros” (Propitiatory Practices for Future Events, 2018), by the choreographer Vera Mantero, with performance and co-creation by Henrique Furtado Vieira, Paulo Quedas and Vânia Rovisco. The project was based on the relations between the avant-garde and popular art developed by Ernesto de Sousa, who combined the activities of critic and curator, referred to above, with those of teacher, filmmaker, performer, and also the important role of intermediary between the Portuguese and inter-national artistic scene during the 60s-80s. A quite different example, but similar in this process, is the film, “Homem Pykante — Diálogos kom Pimenta” (Pykante Man. Dialogues with Pimenta [Pepper], 2018), by the experimental film-maker Edgar Pêra, who is, as the title indicates, conversing with Alberto Pimenta. Pimenta (‘Pepper’ in English) was a Portuguese poet and performer exiled in Germany, where he was a professor of literature, during the period of the Por-tuguese dictatorship that ended in 1974. Both projects deal with artistic (and biographical) aspects of the artistic work of these precursors, at the same time as establishing poetic and meta-discursive hybrid approaches to them. Singular reactivations of these archives are thus configured, problematizing the unknown in these performance histories in the current artistic context. Based on the conceptual discussion of “meta-hybridity” that I have been developing (Madeira 2020) from the approaches of several disciplinary areas, I propose to analyze these projects and their contribution to the construction of Portuguese performance history in its contemporary dynamics.
Translated title of the contributionMeta-hybridity and the reactivation of Portuguese performance art archives
Original languagePortuguese
Title of host publicationImagens & Arquivos Fotografias e Filmes
EditorsTeresa Mendes Flores, Sílvio Marcus de Souza Correa, Soraya Vasconcelos
Place of PublicationLisboa
PublisherICNOVA – Instituto de Comunicação da Nova
Pages300-320
Number of pages20
ISBN (Electronic)978-989-9048-10-2
ISBN (Print)978-989-9048-11-9
DOIs
Publication statusPublished - 2021

Keywords

  • Arte da performance portuguesa
  • Arquivo
  • Reenactment
  • Meta-hibridismo
  • Meta-performatividade

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