TY - CHAP
T1 - Memoria operária, reconfigurações produtivas e novos usos do património industrial no Vale do Ave
AU - Rei, Mariana
N1 - info:eu-repo/grantAgreement/FCT/5876/147250/PT#
UID/HIS/04209/2013
PY - 2017
Y1 - 2017
N2 - Num artigo de 2010, Jaume Franquesa denota como a dimensão económica do património, designadamente o seu papel nos processos de acumulação de capital, é frequentemente negligenciada pelos antropólogos, centrados sobretudo no seu caráter cultural e identitário (2010, p. 40). Apesar de, tendencialmente, os discursos e processos de patrimonialização se revestirem de uma aparência economicamente desinteressada, o antropólogo catalão sustenta comoestes desempenham, naverdade, um papel central na produção de valor que enforma o próprio objeto patrimonial. Tal é notório pela forma como, nas últimas décadas, a inflação patrimonial – para recorrer ao termo de Françoise Choay (1992) – tem sido acompanhada com uma forte expansão dos processos de mercantilização (FRANQUESA, 2010, p. 54). Neste sentido, Franquesa propõeno referido artigo um conjunto de ferramentas teóricas que ajudem a pensar esta relação entre património e mercado. Segundo o antropólogo, a categoria de património revela-se desadequada a este propósito, pelo seu caráter essencializador, ocultando o processo mediante o qual o objeto patrimonial adquire valor. Apoiando-se na tradição da antropologia económica – designadamente em Annette Weiner (Inalienable Possessions. The paradox of keeping-while-giving 1992) e Maurice Godelier (L’énigme du don 1996), que estudam a questão da posse em sociedades de reciprocidade não económica –, propõe guardar como categoria analítica alternativa, uma questão que desenvolve posteriormente (FRANQUESA, 2013) de forma articulada com o contexto de Palma, na ilha de Maiorca (Espanha). A inter-relação entre os processoseconómicos e os de patrimonialização constitui-se como o ponto de partida do estudo que informa este artigo, desenvolvido a partir de um fenómeno de proliferação recente em Portugal – as fábricas criativas (REI, 2016a). Conforme nota Franquesa na citação que dá o mote a este artigo,os processo económicos sempre decorrem nalgum lugar (2007, p. 127), constituindo-se a regeneração urbana como uma das suas manifestações mais visíveis. Partindo da requalificação de antigas unidades industriais com significativo valor patrimonial e forte implantação na memória coletiva da região, as fábricas criativas– isto é, a requalificação de antigos espaços industriais em espaços de indústrias criativas –têm como princípio transformar anteriores marcos de desenvolvimento económico em polos de inovação de referência, através da instalação de incubadoras de indústrias criativas. Assentes na desvalorização e revalorização cíclica de espaços, estes projetos constituem-se, neste sentido, como mecanismos de criação de novas oportunidades de mais-valia, num processo de destruição criativa (SCHUMPETER, 1961 [1943])que acompanha as crises cíclicas do capitalismo e constitui a base do seu sistema de acumulação (FRANQUESA, 2007, p. 128).
AB - Num artigo de 2010, Jaume Franquesa denota como a dimensão económica do património, designadamente o seu papel nos processos de acumulação de capital, é frequentemente negligenciada pelos antropólogos, centrados sobretudo no seu caráter cultural e identitário (2010, p. 40). Apesar de, tendencialmente, os discursos e processos de patrimonialização se revestirem de uma aparência economicamente desinteressada, o antropólogo catalão sustenta comoestes desempenham, naverdade, um papel central na produção de valor que enforma o próprio objeto patrimonial. Tal é notório pela forma como, nas últimas décadas, a inflação patrimonial – para recorrer ao termo de Françoise Choay (1992) – tem sido acompanhada com uma forte expansão dos processos de mercantilização (FRANQUESA, 2010, p. 54). Neste sentido, Franquesa propõeno referido artigo um conjunto de ferramentas teóricas que ajudem a pensar esta relação entre património e mercado. Segundo o antropólogo, a categoria de património revela-se desadequada a este propósito, pelo seu caráter essencializador, ocultando o processo mediante o qual o objeto patrimonial adquire valor. Apoiando-se na tradição da antropologia económica – designadamente em Annette Weiner (Inalienable Possessions. The paradox of keeping-while-giving 1992) e Maurice Godelier (L’énigme du don 1996), que estudam a questão da posse em sociedades de reciprocidade não económica –, propõe guardar como categoria analítica alternativa, uma questão que desenvolve posteriormente (FRANQUESA, 2013) de forma articulada com o contexto de Palma, na ilha de Maiorca (Espanha). A inter-relação entre os processoseconómicos e os de patrimonialização constitui-se como o ponto de partida do estudo que informa este artigo, desenvolvido a partir de um fenómeno de proliferação recente em Portugal – as fábricas criativas (REI, 2016a). Conforme nota Franquesa na citação que dá o mote a este artigo,os processo económicos sempre decorrem nalgum lugar (2007, p. 127), constituindo-se a regeneração urbana como uma das suas manifestações mais visíveis. Partindo da requalificação de antigas unidades industriais com significativo valor patrimonial e forte implantação na memória coletiva da região, as fábricas criativas– isto é, a requalificação de antigos espaços industriais em espaços de indústrias criativas –têm como princípio transformar anteriores marcos de desenvolvimento económico em polos de inovação de referência, através da instalação de incubadoras de indústrias criativas. Assentes na desvalorização e revalorização cíclica de espaços, estes projetos constituem-se, neste sentido, como mecanismos de criação de novas oportunidades de mais-valia, num processo de destruição criativa (SCHUMPETER, 1961 [1943])que acompanha as crises cíclicas do capitalismo e constitui a base do seu sistema de acumulação (FRANQUESA, 2007, p. 128).
KW - Memória
KW - Património
KW - Trabalho
M3 - Chapter
SN - 978-85-397-1032-4
T3 - Série História
SP - 171
EP - 190
BT - Memória e Patrimônio
A2 - , Charles Monteiro
A2 - , Klaus Hilbert
A2 - , Paula Godinho
PB - ediPUCRS - Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
CY - Porto Alegre
ER -