Marginalia Vegetal: Notas sobre um descampado às margens do comboio

Neste texto apresento uma série de observações acionadas pela pesquisa de campo, entre janeiro de junho de 2024, num descampado urbano localizado no Bairro do Rego em Lisboa. Parti de notas de campo escritas durante a pesquisa, as quais deram igualmente origem à audiocaminhada Marginalia Vegetal, apresentada em junho de 2024, cujo trajeto se desenvolveu pela zona mais ampla de Santos ao Rego. O termo ‘marginalia’ refere-se às anotações rabiscadas pelo leitor nas margens das páginas de um livro. Por meio de notas e desenhos, é criado um texto paralelo ao original e em diálogo com este. A caminhada foi guiada por um conjunto de observações feitas às margens dos lugares visitados. Teve como fio condutor a presença do vegetal, seus diversos modos de existência e cultivo na cidade, assim como as histórias que germinam entre pessoas e plantas, As notas de campo focaram-se na observação corporificada do espaço e dos usos que dele fazem os moradores da vizinhança. Dediquei especial atenção a uma horta urbana, localizada num terreno privado cedido temporariamente para o uso coletivo de um grupo de vizinhos. A partir desta experiência, especulo sobre a presença dos descampados, ou baldios, em contexto urbano e possíveis alternativas de uso enquanto estes espaços se encontram em compasso de espera. Examino as tensões em torno do termo ‘baldio’, as suas múltiplas significações e possíveis interpretações em contexto urbano. Por fim, ressalto os ecossistemas ruderais e as apropriações informais que têm lugar nos descampados urbanos apesar de sua aparente desordem e suposta inatividade, Entendidos aqui como espaços de desaprendizagem, os descampados desafiam as noções comuns sobre o que é paisagem, o que seria natural ou artificial, urbano ou rural, e convidam a admitir outros modelos de fruição do tempo e do espaço na cidade.