Manipulação de massa no contexto das guerras mundiais ou as raízes da institucionalização do significado formal da comunicação

O objetivo deste texto é expor um outro significado de comunicação que, segundo iremos sustentar, foi estabelecido como prática institucional e formulação teórica na conjuntura histórica iniciada com a deflagração, em 1914, da Grande Guerra e encerrada, em 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial. Este foi um período assinalado por grandes revoluções, a derrocada de impérios europeus e a ascensão de novas potências mundiais. Os conflitos bélicos travados nestes 31 anos — não apenas as guerras mundiais, mas também a Revolução Russa de 1917 e a Guerra Civil Espanhola — contaram com o incremento da inovação tecnológica em duas esferas cruciais para a beligerância. No âmbito das armas, sobressaem o gás venenoso, os bombardeamentos aéreos e a bomba atómica. No campo da comunicação, o aumento da circulação da imprensa de massa, o surgimento do cinema como meio de comunicação internacional e a rádio, que trouxe o mundo ao domicílio. Sem deixar de ter em conta uma pluralidade de fatores, o presente ensaio foca em especial o papel desempenhado por uma nova instituição social e política, orientada para o controlo e a administração da comunicação. Nos mais diversos regimes políticos, surgiu nesse período, patrocinada pelos Estados e dotada de avultados recursos económicos e estruturas organizacionais, uma entidade cujo objetivo era o condicionamento psicológico e ideológico de massa através de práticas de manipulação de informação. A análise comparada entre países diferentes e regimes políticos também distintos, tais como o Reino Unido, a Alemanha, os EUA e a antiga URSS, é elucidativa da génese e desenvolvimentos desse processo de instrumentalização da comunicação.