Abstract
Apesar de muito frequentemente se considerar, de forma redutora e errónea, que um dos aspetos que mais determina a especificidade das cantigas de amigo é o facto de estas terem como cenário paradigmático um natural e idílico locus amoenus, encontramos em muitos destes textos outros tipos de referências espaciais – menções toponímicas concretas, descrições vagas ou deíticos expressivos – que, longe de serem elementos meramente decorativos ou acessórios, têm assaz importância na construção destas composições, influenciando a expressão sentimental ou constituindo até a base de toda a situação apresentada, como acontece, por exemplo, na cantiga de Bernal de Bonaval cujos versos retomamos no título deste estudo, em que é a peculiaridade de a donzela se encontrar “longi de vila” que dá origem a todo o diálogo aqui encenado.
Além de desempenharem uma função referencial, indicando-nos onde é que os protagonistas destes cantares – a donzela e o amigo – estão, onde vão ou de onde regressam, os diversos espaços físicos explicita ou implicitamente mencionados nestes textos podem ter, ainda, outras funções: por vezes, auxiliam-nos a delinear também o espaço social, como acontece nas cantigas que se referem explicitamente a «cas d’el rei»; noutros casos, como se verifica nas célebres composições dirigidas às «flores do verde pino» ou às «ondas do mar de Vigo», o espaço constitui não só um elemento cénico como também – e principalmente – se destaca como verdadeira personagem e/ou símbolo fundamental para a compreensão do texto. Além disso, os locais referidos neste corpus podem também funcionar como verdadeiras «marcas de autor», já que é percetível que a iteração, em diversos textos do mesmo trovador ou jogral, de certas referências espaciais específicas é propositada, servindo como estratégia para cunhar a obra com uma forte marca pessoal que singulariza a produção poética do autor no panorama trovadoresco ibérico.
As menções espaciais que encontramos nos cantares galego-portugueses de voz feminina funcionam ainda, muitas vezes, como pistas importantes para conhecer melhor os autores destes textos e as suas movimentações no seio dos centros culturais ibéricos, podendo ainda, consequentemente, fornecer alguns indícios que nos podem ajudar a delinear melhor a geografia e até a cronologia da cantiga de amigo.
Neste artigo, tentaremos, então, perceber quais são os locais referidos de forma precisa neste corpus (como, por exemplo, Lisboa, cenário de algumas cantigas de João Zorro), ao mesmo tempo que atentaremos nos espaços “textuais” (ou seja, os lugares vagos, indeterminados e convencionais) em que se desenrolam muitas destas composições; confrontaremos ainda os espaços internos com os externos e também os espaços urbanos (“na vila”) com os locais mais ermos (“longi de vila”), tentando demonstrar como esta variedade espacial confere a estes textos maior simbolismo e verosimilhança.
Além de desempenharem uma função referencial, indicando-nos onde é que os protagonistas destes cantares – a donzela e o amigo – estão, onde vão ou de onde regressam, os diversos espaços físicos explicita ou implicitamente mencionados nestes textos podem ter, ainda, outras funções: por vezes, auxiliam-nos a delinear também o espaço social, como acontece nas cantigas que se referem explicitamente a «cas d’el rei»; noutros casos, como se verifica nas célebres composições dirigidas às «flores do verde pino» ou às «ondas do mar de Vigo», o espaço constitui não só um elemento cénico como também – e principalmente – se destaca como verdadeira personagem e/ou símbolo fundamental para a compreensão do texto. Além disso, os locais referidos neste corpus podem também funcionar como verdadeiras «marcas de autor», já que é percetível que a iteração, em diversos textos do mesmo trovador ou jogral, de certas referências espaciais específicas é propositada, servindo como estratégia para cunhar a obra com uma forte marca pessoal que singulariza a produção poética do autor no panorama trovadoresco ibérico.
As menções espaciais que encontramos nos cantares galego-portugueses de voz feminina funcionam ainda, muitas vezes, como pistas importantes para conhecer melhor os autores destes textos e as suas movimentações no seio dos centros culturais ibéricos, podendo ainda, consequentemente, fornecer alguns indícios que nos podem ajudar a delinear melhor a geografia e até a cronologia da cantiga de amigo.
Neste artigo, tentaremos, então, perceber quais são os locais referidos de forma precisa neste corpus (como, por exemplo, Lisboa, cenário de algumas cantigas de João Zorro), ao mesmo tempo que atentaremos nos espaços “textuais” (ou seja, os lugares vagos, indeterminados e convencionais) em que se desenrolam muitas destas composições; confrontaremos ainda os espaços internos com os externos e também os espaços urbanos (“na vila”) com os locais mais ermos (“longi de vila”), tentando demonstrar como esta variedade espacial confere a estes textos maior simbolismo e verosimilhança.
Original language | Portuguese |
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Title of host publication | “En Doiro antr’o Porto e Gaia” |
Subtitle of host publication | Estudos de Literatura Medieval Ibérica |
Editors | José Carlos Ribeiro Miranda |
Place of Publication | Porto |
Publisher | Estratégias Criativas |
Pages | 857-872 |
ISBN (Print) | 978-989-8459-34-3 |
Publication status | Published - 2017 |
Event | En Doiro antr'o Porto e Gaia : XVI Congresso da Associação Hispânica de Literatura Medieval - Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, Portugal Duration: 21 Sept 2015 → 25 Sept 2015 Conference number: XVI http://smelps2015.wixsite.com/xvicongressoahlm |
Conference
Conference | En Doiro antr'o Porto e Gaia |
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Abbreviated title | En Doiro antr'o Porto e Gaia |
Country/Territory | Portugal |
City | Porto |
Period | 21/09/15 → 25/09/15 |
Internet address |
Keywords
- Lírica galego-portuguesa
- cantigas de amigo
- espaços reais/textuais