Irene Buarque nos anos 80: contatos e cruzamentos entre Lisboa e São Paulo em torno da arte experimental

A artista brasileira Irene Buarque chegou a Lisboa em 1973. Ali, e a partir de um momento pictórico anterior, ela desenvolveu uma prática experimental. A evolução de seu trabalho foi registrada em uma sequência de motivos metafóricos – a parede, a janela, a passagem – a partir dos quais pode ser observada uma certa inclinação para a abertura e a mobilidade, com base em sua experiência como mulher artista e migrante entre duas ditaduras. Nos anos 80, a artista tornou-se cada vez mais importante na rede de artistas experimentais em Portugal, participando de exposições e, em particular, como fundadora da galeria-cooperativa Diferença. Buarque foi capaz de transformar sua experiência liminar entre as artes experimentais brasileiras e portuguesas em uma oportunidade. Ao longo dos anos 80, além de sua prática individual, ela coordenou, no MAC da Universidade de São Paulo, várias exposições de artistas de Portugal que trabalham no campo da experimentação. Ao incentivar o intercâmbio e o trabalho em rede, a agência catalítica de Buarque serviu para construir uma ponte transatlântica que suprimiu a falta de relações artísticas oficiais entre os dois países. O sucesso dessas propostas teria repercussões em ambos os lados do Atlântico, como pode ser observado na relação entre Buarque e a artista brasileira Regina Silveira.

The Brazilian artist Irene Buarque arrived to Lisbon in 1973. There, from a previous pictorial moment, she developed an experimental practice. The evolution of her work was recorded in a sequence of metaphorical motifs — the city wall, the window, the footstep — from which a certain inclination towards openness and mobility can be observed, based on her experience as a woman artist and migrant between two dictatorships. In the 1980s, the artist became increasingly relevant in the network of experimental artists in Portugal, participating in exhibitions and, especially, as founder of the gallery-cooperative Diferença. Buarque was able to transform her liminal experience between the Brazilian and Portuguese experimental arts into an opportunity. Throughout the 1980s, in addition to her individual practice, she coordinated, at the MAC of the Universidade de São Paulo, a number of exhibitions of Portuguese artists working in the field of experimentation. By stimulating exchange and networking, Buarque's catalytic agency served to build a transatlantic bridge that covered the scarcity of official artistic relations between the two countries. The success of these proposals would have repercussions on both sides of the Atlantic, as seen in the relationship between Buarque and the Brazilian artist Regina Silveira.