Abstract
Em 1958, pouco antes de sua primeira viagem ao Brasil, Fernando Lopes-Graça compôs a canção «Desafio», sobre o poema homônimo de Manuel Bandeira.
Adolfo Casais Monteiro, em um estudo sobre o autor pernambucano, destaca em sua obra a "impureza", resultante da diversidade estilística e da mistura de sentimentos e sensações aparentemente contraditórios, características bastante presentes nos poemas da "Lira dos Cinquent'anos (1940), colectânea onde se encontra o «Desafio». Curiosamente, considerando-se a fidelidade do poeta às estruturas de métrica e rima comuns ao gênero poético popular a que o título se refere, deve-se reconhecer, que este, ao menos aparentemente, é o poema mais "puro" da coletânea. Outro traço visível na poesia bandeiriana é a mistura, num mesmo poema, de vários registros da linguagem, o que confere humor ao texto. No ensaio " Bandeira, o Desconstelizador", Haroldo de Campos discorre sobre essa característica do poeta, utilizando a metáfora das constelações como redes de significados comumente associados a determinada palavra ou associações vocabulares previsíveis ou tidas como lógicas e apropriadas. O bem-humorado uso da palavr "bunda", alteração ao texto realizada pelo compositor, pode ser entendido como homenagem a essa sua marca estilística. A "impureza" estaria presente na canção por meio da sobreposição do lirismo, brejeirice e valentia, que se misturam no texto, nas indicções de caráter e no jogo entre barcarola e impulso de dança espanhola [recurso a saltos anacrústicos ascendentes de 4ª, à alternância dos intervalos melódicos de 3ª maior e menor e à articulação «non legato»] permeado por uma harmonia impressionista.
Adolfo Casais Monteiro, em um estudo sobre o autor pernambucano, destaca em sua obra a "impureza", resultante da diversidade estilística e da mistura de sentimentos e sensações aparentemente contraditórios, características bastante presentes nos poemas da "Lira dos Cinquent'anos (1940), colectânea onde se encontra o «Desafio». Curiosamente, considerando-se a fidelidade do poeta às estruturas de métrica e rima comuns ao gênero poético popular a que o título se refere, deve-se reconhecer, que este, ao menos aparentemente, é o poema mais "puro" da coletânea. Outro traço visível na poesia bandeiriana é a mistura, num mesmo poema, de vários registros da linguagem, o que confere humor ao texto. No ensaio " Bandeira, o Desconstelizador", Haroldo de Campos discorre sobre essa característica do poeta, utilizando a metáfora das constelações como redes de significados comumente associados a determinada palavra ou associações vocabulares previsíveis ou tidas como lógicas e apropriadas. O bem-humorado uso da palavr "bunda", alteração ao texto realizada pelo compositor, pode ser entendido como homenagem a essa sua marca estilística. A "impureza" estaria presente na canção por meio da sobreposição do lirismo, brejeirice e valentia, que se misturam no texto, nas indicções de caráter e no jogo entre barcarola e impulso de dança espanhola [recurso a saltos anacrústicos ascendentes de 4ª, à alternância dos intervalos melódicos de 3ª maior e menor e à articulação «non legato»] permeado por uma harmonia impressionista.
Original language | Portuguese |
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Pages | 33-34 |
Number of pages | 2 |
Publication status | Published - 2016 |
Event | I Colóquio Internacional Voz no Palco - Auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro (BMOR), Lisboa, Portugal Duration: 24 Nov 2016 → 25 Nov 2016 http://voxperformance.wixsite.com/palco |
Conference
Conference | I Colóquio Internacional Voz no Palco |
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Country/Territory | Portugal |
City | Lisboa |
Period | 24/11/16 → 25/11/16 |
Internet address |