História da Ciência e História da Tecnologia: reflexões sobre ética e práticas disciplinares

No presente capítulo abordaremos as questões éticas que se colocam aos historiadores das Ciências e da Tecnologia, em termos globais, mas, também, da perspectiva dos seus praticantes em Portugal. Estas reflexões definem-se, em primeiro lugar, a partir das tradições que fundamentam a disciplina e, depois, pela relação que estabelecem com o ofício do historiador. A História das Ciências e da Tecnologia como hoje se faz e é reconhecida na comunidade internacional testemunha, por um lado, o sucesso do conceito de História nascido, na década de 30 do século XX, na École des Annales sob a égide de Lucien Febvre e Marc Bloch, e, por outro, a capacidade de reclamar um espaço epistemológico para actores e locais inicialmente omitidos da narrativa histórica, entre os quais se incluem as chamadas periferias, em termos geográficos e humanos, tradicionalmente tratadas como actores passivos e cuja história se considerava, em termos europeus e mundiais, apenas uma nota de rodapé.
Assim, e para que o leitor possa acompanhar os principais temas e problemas que se põem no nosso ofício de historiador, optámos por fazer uma breve História da História das Ciências e da Tecnologia, em termos internacionais e nacionais, que permita perceber, ao explicitar as tradições por detrás da nossa disciplina, o tipo de questões éticas que se nos colocam. Partilhamos, claro, muitas das questões globalmente abordadas nas reflexões sobre Ética e História, de que existe uma recente, mas já extensa bibliografia, mas, pelo nosso objecto de estudo – as ciências e a tecnologia —, confrontamo-nos com algumas questões específicas.