Abstract
Em todas as civilizações urbanas houve certamente indivíduos que se entretiveram a passear e a observar a cidade, caminhando. Mas o tipo do flâneur só apareceu na literatura no momento em que os fenómenos da industrialização, do êxodo rural e da rápida urbanização fizeram surgir as grandes cidades (as metrópoles) modernas. Foi na primeira metade do século XIX que surgiram pequenos fascículos em formato de bolso que se ocuparam da descrição dos diferentes tipos urbanos que povoavam a metrópole francesa, desde o vendedor ambulante que se encontrava nos boulevards aos tipos mais elegantes que podiam ser vistos no foyer da Ópera de Paris. A «literatura panorâmica» produzida pelas «fisiologias», numa época em que a cidade se transformava em paisagem (saneada e reorganizada) para contemplar e gozar, revelou então esse «botânico do asfalto» ou «pintor da vida moderna» - o flâneur - que ora se perdia no meio das multidões sem com elas se misturar ora se sentia no boulevard como num salão ao ar livre e se demorava ociosamente nas passagens parisienses e nos grands magasins para resistir à mecanização e massificação da produção industrial, ao mesmo tempo que sucumbia ao desejo estéril e fetichista do capitalismo mercantil.
Partindo de textos e fragmentos escritos por Walter Benjamin, nomeadamente, o capítulo dedicado ao Flâneur em «Charles Baudelaire - Um Poeta na Época do Capitalismo Avançado» e as anotações do Livro das Passagens também a ele dedicadas, e seguindo os ecos e reverberações de e noutros textos anteriores (Poe, Baudelaire, Huart, Fournel), procurarei esboçar alguns traços sinópticos desse personagem paradigmático da experiência estética da cidade (e da vida moderna): o flâneur.
Partindo de textos e fragmentos escritos por Walter Benjamin, nomeadamente, o capítulo dedicado ao Flâneur em «Charles Baudelaire - Um Poeta na Época do Capitalismo Avançado» e as anotações do Livro das Passagens também a ele dedicadas, e seguindo os ecos e reverberações de e noutros textos anteriores (Poe, Baudelaire, Huart, Fournel), procurarei esboçar alguns traços sinópticos desse personagem paradigmático da experiência estética da cidade (e da vida moderna): o flâneur.
Original language | Portuguese |
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Title of host publication | Planos de Pormenor |
Subtitle of host publication | Leituras críticas sobre a experiência da cidade |
Editors | Nélio Conceição, Nuno Fonseca |
Place of Publication | Lisboa, V. N. Famalicão |
Publisher | IFILNOVA/Húmus |
Pages | 103-128 |
Number of pages | 26 |
ISBN (Electronic) | 978-989-755-880-1 |
DOIs | |
Publication status | Published - 2023 |