Escrevivências e Desestabilizações: Palavras de Mulheres Negras na Literatura Pós-Colonial Portuguesa

A segunda década do século XXI revelou ser um ponto de viragem para a literatura portuguesa pós-colonial. As narrativas e poesia de autoras luso-africanas e portuguesas afrodescendentes nascidas depois das libertações africanas, tais como Djaimilia Pereira de Almeida e Yara Nakahanda Monteiro, entre muitas outras, introduziram olhares diferentes sobre o legado pós-colonial, visibilizando a pós-memória dos herdeiros das experiências dos colonizados através do deslocamento da alterização da voz da mulher negra para uma posição de autoridade discursiva, inédita em tempos pós-coloniais portugueses. Discorrendo sobre vivências que desestabilizam imaginários cartográficos ao refletir sobre a complexidade das vivências luso-africanas e afrodescendentes, são escrevivências que introduzem a diversidade polifónica ausente na pós-memória coletiva portuguesa. Reforçada pelo crescente reconhecimento desta autoria, esta visibilização tem sido construída maioritariamente pelas mãos das mulheres negras portuguesas que mostram as possibilidades que a literatura pode oferecer para uma discussão sobre reparação histórica. E é assente nesta perspetiva que a presente comunicação se centra em Esse Cabelo (2015) e Memórias Aparições Arritmias (2021) de Djaimilia Pereira de Almeida e Yara Nakahanda Monteiro, respetivamente, que partem das suas experiências e vivências pessoais enquanto sujeitos históricos. A presente comunicação argumenta que, as suas escrevivências podem ser lidas como uma escrita reparadora das rasuras das memórias de outras subjetividades que desestabilizam uma memória coletiva portuguesa construída em moldes excludentes das subjetividades não brancas.