TY - JOUR
T1 - Era um som que eu via
T2 - Maria Velho da Costa e o engajamento entre o verbo e a imagem
AU - Vieira, Susana
N1 - info:eu-repo/grantAgreement/FCT/6817 - DCRRNI ID/UIDB%2F00657%2F2020/PT#
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UIDB/00657/2020
UIDP/00657/2020
PY - 2024
Y1 - 2024
N2 - “La Dame à la Licorne”, tapeçarias do século XV, são uma alegoria dos cinco sentidos e o mote que interrogou Maria Velho da Costa, escritora portuguesa do contemporâneo literário experimentalista que, sobre esse universo, viajou “Para que uma nova viagem — a do leitor — comece, por sua vez”. É o texto “A vista” (inserido na obra coletiva Poética dos cinco sentidos) um desafio aos “contos na boca”, às “mãos que me afagaram na infância”, ao “bafo no primeiro espelho”. Apesar do recurso a um mecanismo de retórica ecfrástica, há um processo inverso na expansão do inespecífico, porquanto MVC procura a palavra na tela pintada, o “incriado”, não fosse a escrita um agente, por excelência, da metamorfose. A interseção entre verbo e imagem resulta numa estrutura da ordem do sensível, que problematiza os limites impostos pela poética clássica. Numa condição pós-moderna, o novo objeto estético profana a lei do pertencimento e desloca, confunde, funde os diversos meios de expressão num diálogo polifónico. Mais que um discurso que descreve, há uma inscrição do eu, na medida em que, convocando os diferentes sentidos, percebe-se a formulação de um corpo que se ensaia “da passagem dos animais e dos sons”, como um “paraíso íntimo” que se dá à contemplação, até formar um “lugar próprio”, o do “puro desejo”. Questionar-se-á se este corpo poroso, atravessado pela palavra e imagem, poderá ser uma construção do sentido, não obstante tratar-se de desvio e fratura, num mundo em que, na base da inteligibilidade dos fenómenos, se deve a uma classificação que delimita e anuncia. Seguindo Floquet, Cluver, Agamben, Garramuño, Ducrot, Orlandi ou Greimas, problematiza-se a convergência dos planos artísticos, uma vez que o verbo não traduz o que vê; o observado é fragmentado no gesto da reposição escrita. Por isso, no seu intento, o texto é sempre uma falha.
AB - “La Dame à la Licorne”, tapeçarias do século XV, são uma alegoria dos cinco sentidos e o mote que interrogou Maria Velho da Costa, escritora portuguesa do contemporâneo literário experimentalista que, sobre esse universo, viajou “Para que uma nova viagem — a do leitor — comece, por sua vez”. É o texto “A vista” (inserido na obra coletiva Poética dos cinco sentidos) um desafio aos “contos na boca”, às “mãos que me afagaram na infância”, ao “bafo no primeiro espelho”. Apesar do recurso a um mecanismo de retórica ecfrástica, há um processo inverso na expansão do inespecífico, porquanto MVC procura a palavra na tela pintada, o “incriado”, não fosse a escrita um agente, por excelência, da metamorfose. A interseção entre verbo e imagem resulta numa estrutura da ordem do sensível, que problematiza os limites impostos pela poética clássica. Numa condição pós-moderna, o novo objeto estético profana a lei do pertencimento e desloca, confunde, funde os diversos meios de expressão num diálogo polifónico. Mais que um discurso que descreve, há uma inscrição do eu, na medida em que, convocando os diferentes sentidos, percebe-se a formulação de um corpo que se ensaia “da passagem dos animais e dos sons”, como um “paraíso íntimo” que se dá à contemplação, até formar um “lugar próprio”, o do “puro desejo”. Questionar-se-á se este corpo poroso, atravessado pela palavra e imagem, poderá ser uma construção do sentido, não obstante tratar-se de desvio e fratura, num mundo em que, na base da inteligibilidade dos fenómenos, se deve a uma classificação que delimita e anuncia. Seguindo Floquet, Cluver, Agamben, Garramuño, Ducrot, Orlandi ou Greimas, problematiza-se a convergência dos planos artísticos, uma vez que o verbo não traduz o que vê; o observado é fragmentado no gesto da reposição escrita. Por isso, no seu intento, o texto é sempre uma falha.
KW - Verbo
KW - Imagem
KW - Limite
KW - Porosidade
KW - Diálogo
U2 - https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v16i32p191-200
DO - https://doi.org/10.11606/issn.2175-3180.v16i32p191-200
M3 - Article
SN - 2175-3180
VL - 16
SP - 191
EP - 200
JO - Desassossego
JF - Desassossego
IS - 32
ER -