Entre o espontâneo e o controlado: a variação na produção oral dos pronomes acusativos de terceira pessoa no português brasileiro

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Abstract

Em português brasileiro (PB) os pronomes acusativos de terceira pessoa (PO3) podem ser realizados lexicalmente tanto como pronomes fortes ele(s)/ela(s), adquiridos normalmente pelas crianças, quanto como pronomes clíticos o(s)/a(s), adquiridos por via escolar (Kato, Cyrino, & Corrêa, 2009). Em dados de produção oral os PO3 clíticos são raramente utilizados, o que contrasta com o seu maior uso na modalidade escrita (cf.Corrêa, 1991; Othero & Schwanke, 2018; Zanellato et al., 2021). Como sugerido por Lira (2021), esta diferença advirá do maior nível de monitorização em produções escritas, sem que se descarte a perceção de formalidade atribuída aos pronomes clíticos no PB (cf. Schwenter et al., 2022). De facto, para Labov ([1972] 2008), o repertório linguístico deverá ser controlado por um monitor sociolinguístico, o qual envolve processos cognitivos mais conscientes que levam à seleção da variante mais apropriada a depender do contexto social e do perfil social dos falantes.
Dada a consistente literatura no que tange à produção mais expressiva dos pronomes clíticos na modalidade escrita, propôs-se investigar se a produção oral desses pronomes também poderá ser condicionada pelo nível de monitorização da fala. Apoiando-se nos pressupostos da Sociolinguística Variacionista (Labov, [1972] 2008), elaboraram-se as seguintes questões de investigação: (1) Existem
diferenças no tipo de PO3 (forte ou clítico) produzido oralmente por falantes escolarizados nativos do PB devido ao grau de espontaneidade da produção? e (2) Esses resultados são condicionados pelo género ou escolaridade dos participantes?
Duas tarefas de produção que permitiam diferentes graus de monitorização da fala (descrição espontânea de um vídeo e completamento de frases a partir de imagens) foram conduzidas com 24 falantes escolarizados nativos do PB. Conforme esperado, os PO3 fortes foram priorizados na fala espontânea, ao passo que os PO3 clíticos emergiram mais consistentemente durante a tarefa de produção induzida,
resultados estes condicionados pelo género e a escolaridade dos falantes (Tabela 1).
Tais dados demonstram que, à partida, os falantes conseguem utilizar os PO3 clíticos ativamente até mesmo em produções orais, desde que o nível de monitorização o permita. De facto, é possível que, devido ao seu perfil sociolinguístico, alguns desses participantes efetivamente os utilizem no seu quotidiano (e que, talvez, esses pronomes não estejam tão ausentes na linguagem oral) (cf. Lira, 2021). Importantemente, estes resultados também sugerem que, em potenciais estudos que comparem, por exemplo, o desempenho de
falantes do PB língua segunda aos dos nativos do PB por meio de tarefas que permitam um alto grau de monitorização, vieses poderão ocorrer caso tais aprendentes não sejam (ainda) sensíveis às nuances sociolinguísticas que permeiam o conhecimento dos nativos escolarizados.
Original languagePortuguese
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Publication statusPublished - 2024
EventEncontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística - Universidade dos Açores, Ponta Delgada
Duration: 23 Oct 202425 Oct 2024
Conference number: 40

Conference

ConferenceEncontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística
CityPonta Delgada
Period23/10/2425/10/24

Keywords

  • Sociolinguística Variacionista
  • Monitor sociolinguístico
  • Pronomes acusativos de terceira pesso
  • Português brasileiro

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