Abstract
No ensaio “In Praise of Profanation”, Agamben reelabora o conceito de profanação no contexto do que Benjamin chamou, num fragmento póstumo, a religião do capitalismo. Num mundo em que troca, o consumo e a exibição espectaculares parecem inviabilizar todo e qualquer uso, o gesto profanatório representaria a possibilidade, ainda que precária, de uma relação com objectos irredutível a fins pré-determinados. Nesta comunicação, adoptando como pano de fundo o modo como neste ensaio de Agamben se compreende o conceito de profanação, procurarei discutir até que ponto faz sentido caracterizar certas representações cinematográficas da ópera como profanações daquele género músico-teatral. Entre os vários motivos que parecem tornar esta hipótese pertinente para discutir em termos politicamente desafiantes o encontro entre aqueles dois géneros, conta-se o facto de Agamben nos convidar a conceber a profanação como uma tentativa de resgatar um objecto ou prática à tradição (seja ela efectivamente religiosa ou genericamente cultural) sem equiparar tal resgate a uma integração desse objecto ou prática na “lógica cultural do capitalismo tardio”. Profanar a ópera – e a questão é saber em que sentido o cinema o pode fazer – significaria então mais do que rejeitar o “valor de culto”; implicaria também não confundir o “valor de uso”, enquanto oposto quer ao “valor de culto” quer ao “valor de troca”, com os seus sucedâneos ou duplos: o consumo e a exibição espectaculares.
Original language | Portuguese |
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Pages | 89 |
Number of pages | 1 |
Publication status | Published - 2016 |
Event | ANNUAL MEETING OF THE AIM - Universidade Católica do Porto, Porto, Portugal Duration: 4 May 2017 → 7 May 2017 |
Conference
Conference | ANNUAL MEETING OF THE AIM |
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Country/Territory | Portugal |
City | Porto |
Period | 4/05/17 → 7/05/17 |