Discursos da imprensa na estreia portuguesa de repertório orquestral canónico na década de 1930

Nesta comunicação tenho por objectivo analisar o modo como as obras do repertório/canon da música ocidental foram recebidas pela imprensa aquando da sua estreia em Portugal. A recepção destas obras na imprensa pode ser avaliada por dois pontos de vista, por um lado, a partir do discurso pessoal do crítico, que descreve a obra e expõe as impressões sentidas no concerto; por outro lado, a partir das estratégias de comunicação que os jornais estabelecem com os leitores na sucessão de notícias publicadas antes das audições. Creio, assim, que a recepção de uma obra musical não se limita ao que é dito mais ou menos explicitamente na crítica. Para entender a recepção da obra julgo que se deverá ter também em atenção ao que está mais implícito no correr das páginas dos jornais, por exemplo no lugar que as notícias ocupam no corpo do jornal ou no destaque que é dado ou não à realização de cada espectáculo. Irei olhar em particular para a recepção das obras apresentadas por iniciativa do Renasciento Musical e da Sociedade Coral Duarte Lobo, sob direcção de Ivo Cruz, Eduardo Libório e Mário Samapaio Ribeiro: Paixão Segundo S. Mateus de J. S. Bach, interpretada em 1931, Orfeu de Monteverdi, em 1932, Requiem de Mozart, em 1933 e Requeim de Berlioz, em 1936. Analisarei ainda a recepção à execução da Sinfonia n.º 9 de Beethoven, em 1937 pela Orquestra Filarmónica de Lisboa, também sob direcção de Ivo Cruz, que já tinha sido interpretada em público em Lisboa pelo menos uma, cerca de dez anos antes.