Abstract
Apesar de escassa sustentação bíblica, o culto de Maria, fruto de quinze séculos de um progressivo percurso devocional, virá a incrementar-se e imporá, à própria Igreja, a força do apego popular à cultualidade feminina.
Constitui assim, de alguma forma, uma revivência, pelo menos funcional, das antigas divindades femininas ligadas à agricultura e à fertilidade. Um regresso, se quisermos, da antiga “Deusa-mãe”, avatar da terra, que, nas suas múltiplas valências, o cristianismo tinha irradicado. Focalizada agora numa entidade que, apesar de virgem, é mãe. Mãe do Redentor: logo arquétipo de todas as mães.
Pode assim dizer-se que, mais que suportada em Maria sempre virgem, o culto da Virgem Maria, surge-nos, em termos populares, como assentando na natureza de Maria, enquanto mãe e apesar de Virgem!
Na Ibéria e áreas limítrofes, destacar-se-á, não só a influência que nele exerceu o “priscilianismo”, bem como a persistente tradição celta, também ela bem menos misógina que a correspondente judaico-cristã.
Não admira, assim, que se acredite que o nosso país atribui uma importância especial à figura panteísta da mãe. Uma espécie de desígnio mítico intemporal que, de alguma forma, nos envolveria desde o começo da nacionalidade, nos protegeria e explicaria, de algum modo, as ações e acontecimentos determinantes do nosso percurso histórico.
Constitui assim, de alguma forma, uma revivência, pelo menos funcional, das antigas divindades femininas ligadas à agricultura e à fertilidade. Um regresso, se quisermos, da antiga “Deusa-mãe”, avatar da terra, que, nas suas múltiplas valências, o cristianismo tinha irradicado. Focalizada agora numa entidade que, apesar de virgem, é mãe. Mãe do Redentor: logo arquétipo de todas as mães.
Pode assim dizer-se que, mais que suportada em Maria sempre virgem, o culto da Virgem Maria, surge-nos, em termos populares, como assentando na natureza de Maria, enquanto mãe e apesar de Virgem!
Na Ibéria e áreas limítrofes, destacar-se-á, não só a influência que nele exerceu o “priscilianismo”, bem como a persistente tradição celta, também ela bem menos misógina que a correspondente judaico-cristã.
Não admira, assim, que se acredite que o nosso país atribui uma importância especial à figura panteísta da mãe. Uma espécie de desígnio mítico intemporal que, de alguma forma, nos envolveria desde o começo da nacionalidade, nos protegeria e explicaria, de algum modo, as ações e acontecimentos determinantes do nosso percurso histórico.
Original language | Portuguese |
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Title of host publication | 500 Anos |
Subtitle of host publication | Procissão em Honra de Nossa Senhora (Coruche) |
Editors | Ana Correia |
Place of Publication | Coruche |
Publisher | Câmara Municipal de Coruche |
Pages | 21-38 |
Number of pages | 17 |
ISBN (Print) | 9789898335074 |
Publication status | Published - 2016 |
Keywords
- Cristianismo
- Deusa-mãe
- Evangelhos
- Fertilidade
- Imaculada
- Maria
- Misoginia
- Paganismo
- Panteísmo
- Virgem