Abstract
Numa das suas digressões pela fronteira, em 1947, o antropólogo Jorge Dias, fundador da moderna antropologia portuguesa, encontrou um objeto de pedra que estava a ser usado para lavar roupa, na aldeia raiana portuguesa de Vilarelho da Raia, no concelho de Chaves. Estranhandoo, averiguou e verificou que era um metate, moinho usado pelos Incas e Astecas, antes da chegada dos europeus à América. Contaramlhe que trinta anos antes, um homem de Rabal, aldeia galega a duzentos metros de Vilarelho, ia a esta aldeia fazer chocolate. Moía o grão do cacau, com auxílio de um rebolo de pedra, misturava açúcar, manteiga e enformava em placas, vendidas depois pelas aldeias portuguesas das imediações3. Um objeto proveniente da América précolombiana, num povoado português da fronteira, incita à reflexão sobre movimentos de gente, de coisas, de ideias, no espaço, em processos longos. Este artigo de Jorge Dias torna intrigante a relação dos lugares e do tempo com o mundo, e questiona um objeto tardio da antropologia: a fronteira. Se o cerne da antropologia é a cultura, como compreendêla na fronteira, circunscrevendoa no espaço e no tempo? Ou seja, como aplicar ali uma prescrição que é ensinada nas aulas de métodos em antropologia: criar uma unidade de análise demarcada? Como abordar realidades e comportamentos que transbordam do formato pequeno e delimitado, para que a antropologia nos preparou?
A fronteira é um objeto complexo, onde se cruzam cinco dimensões, que remetem para escalas diversas: (1) realidades locais, relativamente circunscritas: as aldeias e as cidades próximas, com as respetivas relações; (2) os fluxos que as cruzam, que podem ser ou não alheios aos lugares da fronteira; (3) as redes que se estabelecem e que percorrem o mundo, centradas em pessoas, frequentemente regionautas que estendem o seu raio relacional e de ação; (4) os reflexos locais das construções políticas, sociais e culturais que se expressam pelas nações (subestatais ou integradas num Estadonação); (5) as decisões políticas que abrangem dois ou mais Estadosnação, ou provindas de níveis supranacionais – como a União Europeia, por exemplo – com impacto local.
A fronteira é um objeto complexo, onde se cruzam cinco dimensões, que remetem para escalas diversas: (1) realidades locais, relativamente circunscritas: as aldeias e as cidades próximas, com as respetivas relações; (2) os fluxos que as cruzam, que podem ser ou não alheios aos lugares da fronteira; (3) as redes que se estabelecem e que percorrem o mundo, centradas em pessoas, frequentemente regionautas que estendem o seu raio relacional e de ação; (4) os reflexos locais das construções políticas, sociais e culturais que se expressam pelas nações (subestatais ou integradas num Estadonação); (5) as decisões políticas que abrangem dois ou mais Estadosnação, ou provindas de níveis supranacionais – como a União Europeia, por exemplo – com impacto local.
Original language | Portuguese |
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Title of host publication | Procesos de nacionalización e identidades en la península ibérica |
Editors | César Rina Simón |
Place of Publication | Cáceres |
Publisher | Universidad de Extremadura |
Pages | 309-324 |
Number of pages | 16 |
ISBN (Print) | 978-84-9127-004-1 |
Publication status | Published - 2017 |
Keywords
- fronteira
- Portugal
- Espanha
- escala