Custos e sobrevivência para o tratamento da estenose aórtica severa em doentes com alto risco cirúrgico: a TAVI em Portugal sob perspetiva

OBJETIVOS: Os problemas cardíacos originados da degeneração das válvulas cardíacas constituem um grande desafio em termos de saúde pública. Em particular, a estenose aórtica grave, constitui com uma das doenças valvulares com elevada prevalência nos países desenvolvidos, o que resulta numa forte mobilização de recursos de saúde. De entre os tratamentos disponíveis para esta condição, foi considerado como o gold-standard a cirurgia de substituição da válvula aórtica. No entanto, durante muito tempo, esta não era uma alternativa para doentes de alto risco cirúrgico, pelo que o aparecimento da técnica de substituição da válvula aórtica transcateter (TAVI) constituiu um tratamento inovador. Assim sendo, e atendendo ao problema de afetação de recursos e de sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o objetivo deste estudo é analisar a longo prazo os custos hospitalares e a sobrevivência dos doentes submetidos a TAVI em comparação com o tratamento alternativo terapêutico (MM) num hospital português, de 2008 a 2020.

MÉTODOS: Es te é um estudo quantitativo analítico de base populacional, observacional do tipo coorte, longitudinal, retrospetivo e unicêntrico. Foram incluídos doentes consecutivos com estenose aórtica grave e sintomática com indicação potencial para intervenção valvular. Os grupos de tratamento e controlo foram compar ados, usando testes estatísticos não paramétricos, em termos de características demográficas (idade, sexo, peso, altura), parâmetros clínicos (NYH A, EuroSCORE), comorbilidades e fatores de risco. Os custos foram obtidos a partir do registo do consumo de recursos, em termos da intervenção, utilização medicamentos, meios complementares de diagnóstico e terapêutica, consultas médicas, hospitalizações e sessões de reabilitação, ao longo do tempo por ambos os grupos. Todos os recursos foram valorizados através da tabela de preços praticados pelo SNS, em consonância com a perspetiva de análise. A sobrevivência registada ao longo do tempo, em ambas os grupos, permitiu a elaboração da Curva de Kaplan-Meier e da Razão de Risco (HR).

RESULTADOS: Foram acompanhados 21 doentes em TAVI e 24 doentes em MM, obtendo uma média de idade de 84 anos e 81 anos, com predominância de mulheres em ambos os grupos. Quanto ao indicador NYHA, era superior no grupo em tratamento, 76% apresentavam classificação III e IV, contra 61% no comparador. As diferenças encontradas não apresentaram, contudo, relevância estatística. N o que diz respeito aos custos totais, a TAVI apresentou um valor € 26.000 acima do seu comparador. Quanto à sobrevivência, a curva de Kaplan-Meier demonstrou diferença significativa para a TAVI, com uma mediana de 55 meses para T AVI e14 meses para MM e um HR de 2,011(1,093 – 2,07) (p=0,021 para o teste LogRank).

CONCLUSÕES: Apesar dos custos acrescidos com a TAVI face ao MM, há uma sobrevivência também maior. Esta intervenção está relacionada com um aumento considerável da esperança de vida, logo a partir do primeiro ano de seguimento.