Contar (in)visibilidades pós-coloniais de Lisboa a partir dos Contos de Lisboa de Mónica de Miranda

Uma exposição intitulada Contos de Lisboa, da artista visual portuguesa Mónica de Miranda, no Arquivo Municipal de Lisboa, reúne um acervo de 10 anos de registos documentais fotográficos, sonoros e em vídeo de vários bairros situados na periferia de Lisboa, muitos deles já demolidos, tais como o Bairro 6 de Maio e a Azinhaga dos Besouros. As fotografias foram trabalhadas no âmbito do projeto Pós-Arquivo da artista, refletindo sobre as várias camadas que compõem o tempo e a geografia da cidade de Lisboa. Os chamados bairros informais situa(va)m-se ao longo da Estrada Militar de Defesa de Lisboa (Estrada Militar Caxias-Sacavém), construída na segunda metade do século XIX para proteger a capital contra invasões estrangeiras. Esta exposição serve de ponto de partida para uma reflexão sobre uma cartografia urbana assente na regulação da (in)visibilidade de determinados sujeitos, que determina o espaço que lhes é permitido ocupar – centro versus periferia – sendo o ato de cruzamento dos limites desse espaço punível como ato de transgressão e sujeito a intervenção policial. Esta perceção é visível numa publicação do DN em 2019, sobre uma manifestação contra a violência policial que, citando um manifestante, destacava “Ontem a periferia de Lisboa desceu a Av. da Liberdade para repudiar a brutalidade policial que se quer quotidiana”. Mais recentemente, e em tempos de pandemia que obriga ao confinamento, é esta mesma periferia que fundamentalmente assegura os serviços mínimos de funcionamento da cidade. Esta comunicação discutirá a forma como o olhar artístico devolve a visibilidade do invisível na Lisboa póscolonial.