Abstract
Debruçando-se sobre a exposição que João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira apresentaram em 2018 na Galeria Cristina Guerra, em Lisboa, o presente ensaio aborda as estratégias discursivas de repressão à identidade (e vivência) homossexual durante o período do Estado Novo. Através de uma revisitação às obras exibidas e sua recensão crítica, recorremos à conceptualização foucaultiana em torno do sistema panóptico de vigilância (Foucault, 1984/1975) e da estratégia arqueológica (Foucault, 2014/1969) como modo de constituição de um arquivo marginal (ou queer) (Dean, 2014: 10), a fim de pensar como esta dupla de artistas contribui para a construção de uma memória utópica (Muñoz, 2018: 7) ou “imaginada” enquanto modo de resistência (Foucault, 1994/1976). À supressão do termo “homossexual” – o que relegou toda uma comunidade à “inexistência” –, Vale e Ferreira respondem com o termo “cruising”, a fim de podermos identificar positivamente um conjunto de práticas interditas que, em português, ainda nem há muito tempo não poderiam sequer ser nomeadas. Não poderá o seu uso contribuir para descolonizar a nomenclatura repressiva e estigmatizante do Estado-Novo? Libertá-lo da categorização discriminatória imposta por um regime ditatorial e socialmente segregador, permitindo assim que uma existência com nome próprio e de pleno direito possa finalmente figurar na nossa memória colectiva?
Translated title of the contribution | João Pedro Vale and Nuno Alexandre Ferreira: Towards an “Imagined History” of the Repression of Homosexual Experience |
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Original language | Portuguese |
Title of host publication | Dissidências e resistências homossexuais no século XX português |
Editors | António Fernando Cascais |
Place of Publication | Lisboa |
Publisher | Letra Livre / Através Editora |
Pages | 227-319 |
Number of pages | 93 |
ISBN (Print) | 9789898268587 |
Publication status | Published - 2024 |