Ciríaco Cardoso: Paradoxos da Carreira de um Compositor Português de Comédia Musical de Finais do Século XIX

O objectivo desta comunicação é traçar o perfil profissional do músico português Ciríaco Cardoso (1846-1900). O carácter multifacetado da sua acctividade nos meios músico-teatrais portuense, fluminense, parisiense e lisboeta justifica que tome o seu percurso como terreno para problematizar os paradoxos ideológicos frequentemente observados nas redes de sociabilidade de músicos de contextos lusófonos de finais do século XIX. Através da análise de discursos coevos e retrospectivo, proporei hipóteses quanto aos critérios na base dos seus vínculos institucionais e interpessoais, por um lado, no âmbito do teatro musical dito ligeiro e, por outro, de campos com maior poder simbólico, como a ópera ou concerto dito erudito. Para tal, será também necessário discutir a aparente contradição entre as suas ligações às casas reais portuguesa e brasileira e os seus relacionamentos em círculos republicanos. Com excepção de investigadores como Mário Vieira de Carvalho (1999), Maria José Artiaga (2007), João Silva (2011), Luísa Gomes (2012), Isabel Gonçalves (2012) e Luísa Cymbron (2014) e obras como a Enciclopédia da Música em Portugal no século XX (2010), o teatro musical dito ligeiro e os seus agentes têm sido negligenciados pela academia musicológica portuguesa. Contradição evidente dessa desatenção é o quase total esquecimento a que Ciríaco Cardoso foi votado na historiografia, apesar de ter sido um dos mais populares compositores de comédia musical do seu tempo e, por isso, um dos nomes que com mais frequência emergem da pesquisa de fontes sobre música e teatro do século XIX. Para além dos autores referidos, será essencial recorrer à produção científica brasileira de, entre outros: Fernando Mencarelli (2003), Vanda Freire (2004), Cristina Magaldi (2004) e Sílvia Souza (2010). Este trabalho insere-se no âmbito da musicologia história, com contributos também da sociologia da música.