Abstract
Apresento, neste artigo, uma análise da abertura sinfônica Gabriela, Cravo e Canela (1963), do compositor português Fernando Lopes-Graça (1906-1994), inspirada no romance homônimo de Jorge Amado. Destaco alguns aspectos da relação entre a ambientação no romance e na música, tomando como ferramenta de análise a identificação de tópicas. Partindo das categorias de relações transtextuais de Gérard Genette (1982, 1987) e de sua adaptação à análise musical por Paulo Ferreira de Castro (2015), abordo o uso do padrão rítmico da habanera como elemento estruturador da partitura e, mais especificamente, do motivo Prends garde à toi! entoado pelo coro na Habanera da ópera Carmen, de Georges Bizet, destacando o paralelo entre as características de sensualidade e liberdade associadas às duas personagens. Acrescentando a ingenuidade e a espontaneidade infantil de Gabriela, associo estas características ao que identifico como tópicas circenses e pastorais, estas últimas também observadas na análise literária de José Paulo Paes (2012) e relacionadas por este autor aos conceitos de “bom selvagem” e “criança-juiz”. Tomando como base as análises de Carmen por Susan McClary (2002) e de Gabriela na nota de encarte de João de Freitas Branco (1967), discuto a ideia de “morte necessária” da mulher que foge às expectativas morais e sociais e sua subversão por Amado e Lopes-Graça, esta realizada musicalmente a partir do recurso de anticlímax. Aponto brevemente, por fim, a questão da presença e a pertinência do exotismo na abordagem musical de Gabriela, a partir de sua associação ao erotismo e do uso do tresillo.
Original language | Portuguese |
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Pages (from-to) | 245-270 |
Number of pages | 25 |
Journal | Opus - Revista da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM) |
Volume | 24 |
Issue number | 3 |
DOIs | |
Publication status | Published - 2018 |
Keywords
- Fernando Lopes-Graça
- Gabriela Cravo e Canela
- Carmen
- Habanera
- intertextualidade