Caderno Vida e Obra

A interseção entre vida e obra manifesta-se em, pelo menos, três vertentes distintas, qualquer uma delas analisada nos artigos reunidos neste caderno, que dá continuidade ao foco proposto no número anterior. A primeira é a do gesto de publicação do autor, que, de acordo com o que propõe no seu último poema publicado, Conselho, tem por base a ideia de uma seleção apurada do que expõe ao mundo e de uma definição precisa dos moldes em que o faz. A segunda é a da intervenção pública, de índole crítica e sociopolítica, da qual não está ausente uma dimensão poética, performativa e provocatória. A terceira manifesta-se em textos de cariz biográfico por definição, como a sua correspondência, diários – alguns deles ficcionais, como o Livro do Desassossego ou A Educação do Estóico – ou apontamentos em que o literário se cruza com factos concretos da vida, como sejam a relação amorosa com Ofélia Queiroz, o desempenho de tarefas profissionais ou a dedicação a projetos de estudo, leitura e escrita.