As sopas do calhau da Fajã do Ouvidor na ilha de S. Jorge

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    Abstract

    As festas em honra do Divino Espírito Santo são uma das marcas identitárias dos Açorianos, quer seja no arquipélago, ou na sua diáspora. Natália Correia, na “Revista Cultura Portuguesa”, em 1981, define esse sentimento identitário da seguinte forma:«(…) nessas ilhas sísmicas, de alarme feito paisagem, se gera um estado de alma propenso a uma religião sem mediação eclesiástica: O culto do Espírito Santo [que…] no rito da coroação, satisfaz a um tempo a sua idiossincrasia comunitária e a sua relação vitalista com o transcendente».

    Na ilha de S. Jorge, estas festividades apresentam particularidades muito próprias, como acontece aliás, no restante arquipélago, sendo que, salvo algumas exceções, as comemorações têm o seu início no Domingo de Páscoa e prolongam-se até ao Domingo seguinte ao Pentecostes – O Domingo da Trindade, com exceção das Velas, cujas festas se prolongam por mais dois domingos em substituições das antigas “quintas-feiras do Espírito Santo (Império dos Nobres) e da Trindade (Império dos Pobres). (Maciel, 2019: 253).
    Aquando da nossa passagem por esta ilha, tivemos a oportunidade de visitar a Fajã do Ouvidor, na freguesia do Norte Grande e registar a tradição das Sopas do Calhau que são servidas nas quintas-feiras do Espírito Santo e Trindade a todos que por lá passam. Este ritual abarca um conjunto de particularidades muito especificas, que vão desde o próprio espaço onde são servidas as sopas, no calhau junto ao mar, passando pela disposição do protocolo organizativo, composto por mancebos velhos e novos, distribuído por pelouros, dispersos pelos vários pontos estratégicos da localidade.

    Na ilha de S. Miguel estas papas são confecionadas, usualmente, servindo de iguaria em período quaresmal, sobretudo na Sexta-feira Santa, dia de jejum para os católicos, em que não era permitido comer qualquer tipo de carne. Segundo um dito popular, “na Quaresma, pessoa que não comer grão não é bom cristão”. Após a época quaresmal, as papas de carolo continuavam a ser iguaria na alimentação do povo, porém acompanhadas com pé de torresmo e/ou chouriço moído. Esta combinação é frequente nas freguesias do norte do concelho da Ribeira Grande, designadamente, na Lomba da Maia.
    Original languagePortuguese
    PublisherCHAM
    Media of outputOnline
    Publication statusPublished - 2022

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