A unidade da diversidade: Um olhar antropológico sobre os processos de implementação do modelo de cuidados de saúde baseados em valor

A implementação do modelo de cuidados de saúde baseados em valor (CSBV) promete trazer eficiência e sustentabilidade aos sistemas nacionais de saúde. O modelo redesenha toda a lógica da operacionalidade dos sistemas e propõe que os orçamentos discriminem positivamente as instituições que mais produzem valor para o paciente. Para esse fim, os autores do modelo entendem 'valor para o paciente' como uma relação medida estatisticamente entre os resultados dos tratamentos e dos cuidados esperados e desejados pelo paciente e o dinheiro que ele e o sistema gastam para os atingir.
Nesta comunicação proponho analisar criticamente o exercício de padronização do sentido de valor em saúde por parte dos desenhadores e dos implementadores do modelo CSBV. Partindo de exemplos concretos que demonstram a existência de tensões entre a universalidade do sentido de valor defendida por estes atores e a diversidade dos sentidos de valor relatados pelos pacientes, exploro a vantagem do uso de alguns conceitos centrais na antropologia do valor para analisar essas tensões. De entre estes saliento as noções de 'sistemas de ideias' e de 'hierarquia de valor', de Louis Dumont, de 'atos performativos de valor', de Michael Lambek, e o princípio de 'requerimento de pagamento', salientado por Alain Testart como fundamento das práticas de troca de bens e serviços em economias de mercado.