A música encomendada: Compositores e freiras musicistas dos conventos portuenses de Santa Clara e São Bento da Ave Maria (1764-1733)

As actividades musicais no Porto, durante o século XVIII diferem consideravelmente das de Lisboa, sede da corte portuguesa e consequentemente um grande centro de produção artística. Embora fosse uma das mais importantes cidades do reino, poucos eram os espaços públicos que ofereciam música aos portuenses. Este vazio era preenchido pelas festividades religiosas, muitas delas promovidas pelos diversos conventos ali instalados. Os processos históricos contribuíram para que as dificuldades aumentassem no século XIX, com as invasões francesas, o desastre da Ponte das Barcas e os conflitos liberais. Meio a todo este panorama os conventos femininos desempenharam uma importante função social e artística, oferecendo às mulheres uma perspectiva contraditória de "liberdade" através da reclusão. O alto nível musical atingido pelas reclusas dos conventos de Santa Clara e São Bento de Ave Maria, e a encomenda de música a três dos mais prestigiados compositores disponíveis na "invicta cidade" nomeadamente o italiano Girolamo Sertory, e os portugueses Frei Francisco de São Boaventura e António da Silva Leite, promoveu uma praxis que ficou registada através de uma coleção de manuscritos musicais e que actualmente encontra-se custodiado na Biblioteca Nacional de portugal. A presente comunicação tem por objectivo a análise destes manuscritos, relacionando-os com outros documentos afins, na intenção de promover o entendimento da praxis musical nos ditos conventos, ressaltando a sua importância para a historiografia musical portuguesa.