Abstract
«À dimensão local e com as particularidades da sua organização económica e social, as parcelas ultramarinas portuguesas viveram intensamente a transição da Monarquia para a República e os primeiros anos do novo regime. À semelhança da Metrópole, também no arquipélago de Cabo Verde ocorreram greves, protestos e enfrentamentos físicos; também se produziram discursos inflamados – que nem requeriam tribunas institucionais para serem proferidos – e, naturalmente, os encarniçados duelos de imprensa. Só não se registaram os atentados à bomba e os assassinatos, extremos de violência política a que o Portugal europeu não se subtraiu até à institucionalização do Estado Novo. As polémicas partidárias metropolitanas haveriam de repercutir-se no arquipélago, e com idêntico fervor.
[…]
Mais do que passivas receptoras do novo regime, as elites das ilhas foram activas construtoras dessa recepção. Foram-no pela sua intervenção directa junto dos governadores, pelas campanhas que desenvolveram na imprensa local, de cujos órgãos eram proprietárias e de que se serviam para condicionar a acção governativa, e ainda no próprio centro metropolitano do poder, uma vez que, no seu afã intermediador, rendibilizaram os laços familiares que as uniam a alguns dos novos inquilinos do poder. Se houve épocas em que as ligações familiares entre os oligarcas locais e as autoridades do “centro” político foram particularmente exploradas, esta foi uma delas. A ilha do Fogo emergiu como catalisadora desta imbricada teia de intermediação. Alguns dos novos deputados, directores-gerais e ministros tinham partilhado refeições e brincadeiras de infância na então vila de São Filipe, em casa dos avós comuns.»
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Mais do que passivas receptoras do novo regime, as elites das ilhas foram activas construtoras dessa recepção. Foram-no pela sua intervenção directa junto dos governadores, pelas campanhas que desenvolveram na imprensa local, de cujos órgãos eram proprietárias e de que se serviam para condicionar a acção governativa, e ainda no próprio centro metropolitano do poder, uma vez que, no seu afã intermediador, rendibilizaram os laços familiares que as uniam a alguns dos novos inquilinos do poder. Se houve épocas em que as ligações familiares entre os oligarcas locais e as autoridades do “centro” político foram particularmente exploradas, esta foi uma delas. A ilha do Fogo emergiu como catalisadora desta imbricada teia de intermediação. Alguns dos novos deputados, directores-gerais e ministros tinham partilhado refeições e brincadeiras de infância na então vila de São Filipe, em casa dos avós comuns.»
Translated title of the contribution | The establishment of the Republic in Cape Verde: A political shock of great magnitude |
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Original language | Portuguese |
Place of Publication | Praia, Cabo Verde |
Publisher | Pedro Cardoso Livraria |
Number of pages | 443 |
ISBN (Electronic) | 9789898894854 |
ISBN (Print) | 9789898894793 |
Publication status | Published - 2022 |
Keywords
- Implantação da República
- Cabo Verde
- Turbulência social e política
- I Guerra Mundial
- A Voz de Cabo Verde
Fingerprint
Dive into the research topics of 'The establishment of the Republic in Cape Verde: A political shock of great magnitude'. Together they form a unique fingerprint.Prizes
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Prémio CTT - D. Manuel I
Fontes, João Luís (Recipient), 8 Dec 2021
Prize: Prize (including medals and awards)