TY - JOUR
T1 - A degenerescência na fotografia da antropobiologia colonial portuguesa
AU - Costa, Mariana de Soveral Gomes da
N1 - info:eu-repo/grantAgreement/FCT/6817 - DCRRNI ID/UIDB%2F05021%2F2020/PT#
info:eu-repo/grantAgreement/FCT/6817 - DCRRNI ID/UIDP%2F05021%2F2020/PT#
UIDB/05021/2020
UIDP/05021/2020
PY - 2022
Y1 - 2022
N2 - Pressupondo a existência de uma agenda comum às missões antropológicas na África portuguesa em meados do século XX, este texto aborda o espólio iconográfico inédito da Missão Antropobiológica de Angola (1948, 1950, 1952, 1955). É meu intuito apontar não só os principais objetivos da utilização do dispositivo fotográfico pela antropologia colonial portuguesa como a sua matriz epistemopolítica, irmanando as ciências humanas da an-tropologia, nas suas vertentes física e criminal, e da psi-quiatria. Tomarei como base a degenerescência — a ideia de uma falha biológica ou de um atraso evolutivo afetan-do determinados indivíduos — como noção-chave, ainda operativa, no estudo das populações sob a administra-ção colonial, argumentando que a antropologia colonial, tecnocientificamente suportada pela fotografia dos estigmas — as marcas físicas e/ou psíquicas da degenerencência visíveis ao longo da superfície corporal —, atendeu tanto ou menos à racionalização da exploração do trabalho colonial, no que seria uma agenda primordialmente económica, do que à construção da ideia de uma Nação pluricontinental e multirracial que não deixou nunca, porém, de afirmar a inferioridade física dos corpos coloni-zados como forma de justificar a tutela portuguesa. Sem esquecer o relativo atraso geral de Portugal, aquilo que se verifica é que, de modo a fazer face ao movimento antico-lonial do pós-II Guerra Mundial, a mesma degenerescência que perdera força nalguns terrenos epistemológicos — caso da psiquiatria, cuja viragem de paradigma se deve muito ao apport da psicanálise freudiana — surge ainda como grelha conceptual de leitura dos corpos coloniza-dos, mostrando-se cooptada por uma agenda política de contornos eugénicos. A tarefa do medium fotográfico será aqui de crucial importância: do mesmo modo que presi-dira à construção visual do doente mental, a fotografia presidirá à construção visual do Outro racial.
AB - Pressupondo a existência de uma agenda comum às missões antropológicas na África portuguesa em meados do século XX, este texto aborda o espólio iconográfico inédito da Missão Antropobiológica de Angola (1948, 1950, 1952, 1955). É meu intuito apontar não só os principais objetivos da utilização do dispositivo fotográfico pela antropologia colonial portuguesa como a sua matriz epistemopolítica, irmanando as ciências humanas da an-tropologia, nas suas vertentes física e criminal, e da psi-quiatria. Tomarei como base a degenerescência — a ideia de uma falha biológica ou de um atraso evolutivo afetan-do determinados indivíduos — como noção-chave, ainda operativa, no estudo das populações sob a administra-ção colonial, argumentando que a antropologia colonial, tecnocientificamente suportada pela fotografia dos estigmas — as marcas físicas e/ou psíquicas da degenerencência visíveis ao longo da superfície corporal —, atendeu tanto ou menos à racionalização da exploração do trabalho colonial, no que seria uma agenda primordialmente económica, do que à construção da ideia de uma Nação pluricontinental e multirracial que não deixou nunca, porém, de afirmar a inferioridade física dos corpos coloni-zados como forma de justificar a tutela portuguesa. Sem esquecer o relativo atraso geral de Portugal, aquilo que se verifica é que, de modo a fazer face ao movimento antico-lonial do pós-II Guerra Mundial, a mesma degenerescência que perdera força nalguns terrenos epistemológicos — caso da psiquiatria, cuja viragem de paradigma se deve muito ao apport da psicanálise freudiana — surge ainda como grelha conceptual de leitura dos corpos coloniza-dos, mostrando-se cooptada por uma agenda política de contornos eugénicos. A tarefa do medium fotográfico será aqui de crucial importância: do mesmo modo que presi-dira à construção visual do doente mental, a fotografia presidirá à construção visual do Outro racial.
KW - Antropobiologia
KW - Fotografia
KW - Corpos colonizados
KW - Degenerescência estigmas
U2 - https://doi.org/10.34619/vv1b-kghm
DO - https://doi.org/10.34619/vv1b-kghm
M3 - Article
SN - 2183-7198
SP - 233
EP - 264
JO - Revista de Comunicação e Linguagens
JF - Revista de Comunicação e Linguagens
IS - 57
ER -