A cantiga só é arma quando a luta acompanhar! Canção e política na Revolução dos Cravos (1974-1976)

Esta tese aborda o papel de um conjunto de práticas expressivas da canção durante a Revolução dos Cravos em Portugal, num período compreendido entre o golpe de Estado militar de 25 de Abril de 1974 e o período de consolidação democrática em 1976. Partindo de uma narrativa histórica sobre o processo revolucionário português, saliento as profundas mudanças marcadas por reformas estruturais que afetaram todos os sectores da sociedade e cultura portuguesa, no sentido de enquadrar a produção musical adjacente a um conjunto de protagonistas nos vários domínios da canção. Proponho explorar as especificidades dos processos de articulação da atividade musical com a atividade política e revolucionária, através da análise dos percursos, motivações e ideários políticos de vários agentes que exerceram a atividade musical em consonância com valores ideológicos conotados com as várias esquerdas revolucionárias, sobretudo na esfera do Partido Comunista Português e de alguns partidos e organizações de extrema-esquerda. Nestes contextos, demonstro as diferentes perspetivas para a valorização de expressões culturais e artísticas populares, em particular da música, alinhada nos processos de luta revolucionária e enquanto componente do confronto ideológico entre as várias organizações. Através da descrição das formas como os músicos e outros agentes ligados à produção musical se posicionaram e foram percecionados relativamente a orientações político-partidárias, procurei compreender como estes configuraram práticas musicais representativas da sua responsabilidade política, manifesta na interlocução com as audiências. Como tal, examinei o papel da música e dos protagonistas para a renovação de práticas assentes na utilização de expressões musicais de cultura popular, enquanto forma primordial de transmissão de mensagens políticas. Este papel revelou-se indissociável da participação dos músicos na vida pública e política do país, e demonstrativo da função política da atividade e da produção musical.

This thesis addresses the role of expressive practices, especially song, during the Carnation Revolution in Portugal, between the military coup d'état of 25th April, 1974 and the period of democratic consolidation in 1976. Starting from a historical narrative regarding the Portuguese revolutionary process, I stress the profound changes marked by structural reforms that affected all sectors of Portuguese society and culture, in order to frame the musical production adjacent to a group of protagonists in the various domains of the song. I propose to explore the specificities of the processes of articulation of musical activity with political and revolutionary activity, through the analysis of the paths, motivations and political ideas of several agents who exercised musical activity in line with ideological values connoted with the diversity of revolutionary organizations, in particular the Portuguese Communist Party and some far-left parties and organizations. In these contexts, I demonstrate the different perspectives for valuing popular cultural and artistic expressions, particularly music, aligned with the processes of revolutionary struggle and as a component of the ideological confrontation between these organizations. By describing the ways in which musicians and other agents linked to music production positioned themselves and were perceived in relation to political party ideologies, I tried to understand how they configured musical practices who were conceived as representative of their political responsibility, manifested in the dialogue with the audience. As such, I examined the role of music and protagonists in the renewal of practices based on the use of popular cultural expressions as a primary form of political message transmission. This role was inseparable from the participation of musicians in the public and political life of the country, and demonstrates the political function of music activity and production.