Ópera, Baderna e Carnaval: Três mulheres e o teatro no Rio de Janeiro oitocentista

A vida cultural do Rio de Janeiro passou por uma grande transformação a partir da década de 1840. Após o retorno do Imperador D. Pedro I a Portugal em 1832, o mais importante teatro da capital viu sua atividade praticamente suspensa. Foi somente após a emancipação do príncipe regente D. Pedro e de seu casamento com Teresa Cristina de Bourbon – Duas Sicílias que a vida cultural e social da corte recuperou o seu dinamismo. Em 1844, desembarcou no Rio de Janeiro a Companhia Lírica Italiana, cuja prima donna era a soprano milanesa Augusta Candiani, a mais célebre Casta Diva do jovem império Brasileiro, responsável por levar aos palcos líricos as melódicas modinhas, antes relegadas a um plano secundário pelos amantes da música vocal. Por alguns anos, Candiani teve como principal rival a cantora Chiara Delmastro, que, para além de arrebatar um dos principais partidos de diletanti da capital, era também uma criativa empresária. Delmastro foi a responsável pela realização do primeiro baile de carnaval “à veneziana” do Rio de Janeiro, que decorreu no Teatro São Januário em 1846. Apenas três anos mais tarde, chegava ao Brasil a bailarina Marietta Maria Baderna (Piacenza, 1828), que já havia alcançado grande êxito nos mais renomados teatros como o Alla Scala de Milão e o Covent Garden de Londres. No Rio de Janeiro, incorporou danças de origem afro-brasileira em seu repertorio, que, apesar de serem consideradas inferiores pela sociedade daquele tempo, garantiram-lhe um grande número de fiéis seguidores. A presente comunicação propõe uma reflexão sobre a atividade, dentro e fora dos teatros, dessas três artistas italianas, que movimentaram, revolucionaram e enriqueceram a atividade artística brasileira, transformando-a de forma inexorável e rompendo convenções impostos pela sociedade brasileira de meados do século XIX.